O governador da Califórnia, Gavin Newsom, processou a Fox News nesta sexta-feira, 27, acusando a emissora queridinha de Donald Trump e seus apoiadores de difamação. A ação judicial vem num momento em que o expoente do Partido Democrata adota um estilo cada vez mais combativo contra o presidente americano, depois dele ter enviado militares a Los Angeles para conter protestos contra sua dura política de imigração.
Aberto em Delaware, onde fica a sede da Fox News, o processo busca uma indenização de pelo menos US$ 787 milhões (cerca de R$ 4,3 bilhões, na cotação atual), que equivale ao valor exorbitante que a emissora concordou em pagar em 2023 para encerrar um caso movido pela empresa de urnas eletrônicas Dominion Voting Systems, depois da Fox espalhar teorias da conspiração sobre fraude eleitoral. Newsom quer ainda uma ordem judicial proibindo a rede de televisão de transmitir ou publicar trechos que, erroneamente, afirmem que ele mentiu sobre um telefonema que teve com Trump.
“Se a Fox News quiser mentir para o povo americano em nome de Donald Trump, ela deve enfrentar as consequências — assim como aconteceu no caso da Dominion”, declarou Newsom em um comunicado. “Acredito que o povo americano deveria poder confiar nas informações que recebe de um grande veículo de notícias.”
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Os advogados do governador da Califórnia também enviaram à emissora uma carta exigindo uma retratação formal e um pedido de desculpas ao vivo de Jesse Watters, apresentador que afirmou em seu programa que o democrata havia mentido sobre a ligação telefônica com o presidente. Se essas condições forem atendidas, afirma a carta, o processo será arquivado.
O telefonema no cerne do processo
Em meio a trocas de farpas entre Newsom e Trump, depois do presidente invocar uma lei do século XVIII para tomar o controle da Guarda Nacional da Califórnia, alegando que havia uma “insurreição” contra o poder federal em Los Angeles e enviando militares para conter a onda de protestos na cidade apesar das objeções do governador, os dois líderes conversaram por telefone na madrugada de 7 de junho.
O presidente ativou a Guarda Nacional menos de 24 horas após a ligação. Em 8 de junho, Newsom falou sobre o telefonema à emissora MSNBC e, dois dias depois, durante entrevista coletiva na Casa Branca, um repórter perguntou a Trump quando ele havia falado com Newsom pela última vez.
“Há um dia”, respondeu o presidente americano. “Liguei para ele para dizer que precisava fazer um trabalho melhor.”
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Newsom, então, publicou um vídeo nas redes sociais, dizendo que “não houve nenhuma ligação, nem mesmo uma mensagem de voz”. A postagem, de acordo com o processo movido pelo governador, foi escrita para corrigir a alegação de Trump de que eles conversaram “há um dia”.
Em resposta, o presidente forneceu à Fox News capturas de tela de seu registro de chamadas, mostrando o telefonema do dia 7 (noite do dia 6, no horário da Califórnia).
A emissora conservadora, segundo o processo movido pelo governador da Califórnia, fez edições de vídeo enganosas e declarações falsas que ocultaram que Trump afirmara que os dois haviam se falado “há um dia”. Em vez disso, alega a ação, a emissora usou o registro de chamadas do republicano como prova de que Newsom havia sido desonesto.
O processo descreve que a Fox News descaracterizou o desentendimento de forma deliberada, para prejudicar a imagem do democrata da Califórnia e minar sua carreira política. Isso por que, segundo o texto, telespectadores que viram as “notícias falsas” teriam menos probabilidade de apoiá-lo em futuras eleições ou de fazer doações para suas campanhas.