Em Horizonte (CE), município mais conhecido por sua vocação têxtil que por ambições tecnológicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou nesta quarta-feira,3, a primeira linha de montagem de veículos elétricos da General Motors no Brasil.
Com investimento inicial de R$ 400 milhões até 2026, o primeiro modelo fabricado no Polo Automotivo do Ceará será o Chevrolet Spark EUV, utilitário elétrico que entra na linha com 35% de conteúdo nacional. Para uma indústria historicamente dependente de componentes importados, especialmente no segmento elétrico, é um começo notável.
O responsável por esse renascimento é o Polo Automotivo do Ceará (PACE), um consórcio nacional que assumiu a antiga fábrica da Troller após sua desativação pela Ford em 2021. Rodrigo Teixeira, vice-presidente do PACE, descreve o empreendimento como “um ativo estratégico do povo cearense”. Não é retórica vazia: a unidade passou por uma expansão de 120 mil para quase 600 mil metros quadrados,e multiplicou por dez a capacidade produtiva anterior.
Para a GM, a fábrica cearense chega em um momento simbólico. A montadora completa 100 anos de operação no Brasil em 2025, período em que viveu todos os ciclos da indústria nacional: a euforia do pós-guerra, o “milagre econômico”, o fechamento dos anos 1980, a abertura dos 1990 e o superciclo de consumo dos anos 2000.
Estamos vivendo a maior transformação da indústria automotiva global, e o Brasil está em posição excepcional para ajudar a liderar essa nova era”, disse Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul. Seu otimismo tem base em fatores raros no mesmo território: abundância de renováveis, um mercado doméstico de escala continental e algo que poucos países detêm:minerais críticos e terras raras.
Estes últimos são a nova cobiça do setor automotivo global, essencial para motores, semicondutores e baterias. O Brasil possui reservas robustas, sobretudo de nióbio, lítio e terras raras. A GM aposta que, se a política pública brasileira acertar o passo, pode transformar um recurso geológico em vantagem industrial, algo que a China fez com estrondoso sucesso nas últimas décadas.
O presidente Lula, por sua vez, usou o evento para ensaiar uma narrativa de reconstrução econômica. Recordou que, quando deixou o cargo em 2011, o Brasil produzia 3,6 milhões de veículos por ano e mirava 6 milhões até 2015. Ao voltar em 2023, a produção havia despencado para 1,6 milhão. É, nas palavras dele, “a prova de que o Brasil desaprendeu a fazer indústria”. “O povo brasileiro tem o direito de andar num carro moderno, bonito e seguro. Primeiro produzimos para o brasileiro; depois exportamos o excedente.” A visão pode soar protecionista aos ouvidos neoliberais, mas tem lógica doméstica: o Brasil é o sétimo maior mercado de veículos do mundo. Reativá-lo é condição para sustentar qualquer cadeia elétrica nacional.