Bárbara, sua personagem em Sexa, entra em crise ao se tornar uma sexagenária — origem do nome do filme. Como foi essa virada de chave para você, que hoje tem 62 anos? Não foi ruim. Os 60 chegaram com um laço de fita em um momento de transição. Eu tinha acabado de encerrar o contrato com a Globo, onde trabalhei a vida toda. Me abri para novos projetos, entre eles Sexa, que seria uma peça de teatro, mas virou filme. Acho que ter 60 anos é libertador.
Em que sentido? Ao me desprender das pressões da juventude, me senti autorizada, sabe? Assumir o cabelo branco foi parte disso. Eu não me achava bonita, hoje me sinto mais confortável na minha pele e no meu corpo. Há uma ideia errônea de que a juventude é a fase da alegria e da realização. Quando me perguntam para qual época eu gostaria de voltar, respondo: “Deus me livre voltar para o passado”.
Nem para os momentos de auge da carreira? Eu digo que fazer 60 anos não foi difícil, pois, para mim, o mais difícil foi fazer 30. Eu estava no ar com Mulheres de Areia, uma novela que exigia muito de mim, com duas filhas pequenas, e foi quando perdi minha mãe. Uma época terrível. Hoje meus filhos estão criados, tenho um marido que não me dá trabalho, pelo contrário, me apoia muito. Prefiro o presente.
Por que o desejo de virar diretora? Era algo que passava pela minha mente por causa da bagagem de décadas trabalhando em sets de filmagem. Mas faltava um projeto que me tocasse. Eu já tinha começado a dirigir um documentário sobre o Balé Folclórico da Bahia quando o Guilherme Gonzalez, roteirista e criador de Sexa, me apresentou a ideia. Primeiro entrei como atriz e como colaboradora, por ter um lugar de fala em relação ao drama da protagonista. Quando virou um filme, ele e a equipe me perguntaram: “Quem você acha que deve dirigir?”. Respondi: “Eu mesma!”. Ficaram meio chocados, mas aceitaram a ideia.
O filme tem cenas sensuais suas com o ator Thiago Martins, que faz o par romântico mais jovem da protagonista. Como foi essa experiência? Eu gostei muito da proposta do roteiro de tocar na questão: por que é normal um homem ser vinte anos mais velho que a parceira, mas o inverso, não é? E, mesmo antes de ser diretora, sempre palpitei nas minhas cenas de sexo. Tenho um compromisso com o público de fazer imagens de bom gosto e sem exageros. A exposição desnecessária do corpo feminino me incomoda.
Expor seu corpo, hoje em dia, foi fácil ou teve inseguranças? Fiquei muito confortável. Sou uma mulher que faz terapia, que medita, estou medicada, faço atividade física. E boa parte da equipe era formada por mulheres, o que me deu uma forte sensação de amparo e tranquilidade.
Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968