O Haiti está à beira de um “colapso total”, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira, 2, diante do avanço de grupos armados no país. Cerca de 90% da capital, Porto Príncipe, já está sob o controle de gangues, enquanto a escalada da violência dentro do último ano gerou o maior número de deslocamentos internos da história recente do país caribenho.
Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de pessoas deslocadas internamente pela violência chegou a 1,3 milhão. Muitos vivem agora em abrigos improvisados ou em casas de parentes sobrecarregadas, sem acesso a água, comida, serviços básicos ou qualquer proteção. “Por trás desses números estão crianças, mães, idosos; pessoas que perderam tudo e vivem em situações insustentáveis”, afirmou Amy Pope, diretora-geral da OIM, durante reunião na sede da ONU em Nova York.
Além disso, só neste ano, o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, registrou 4.026 vítimas de homicídio doloso, incluindo 376 mulheres, 21 meninas e 68 meninos.
Para o secretário-geral-assistente da ONU para Assuntos Políticos, Miroslav Jenca, o país atravessa uma “forte erosão da autoridade estatal e do Estado de Direito”. A ausência do poder público abriu caminho para que gangues ocupem funções do governo, imponham regras próprias e operem sistemas paralelos de “justiça”. Segundo Jenca, sem uma ação reforçada da comunidade internacional, o “colapso total” da presença estatal na capital pode vir a ocorrer de fato.
Mesmo com o envio de uma missão internacional de apoio liderada pelo Quênia, a atuação estrangeira tem se mostrado insuficiente para conter o avanço das milícias urbanas. “Não se trata apenas de aumentar o poder de fogo”, destacou Bob Rae, presidente do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc). Segundo ele, é preciso combinar ações de segurança com apoio político, assistência humanitária e iniciativas de consolidação da paz.
Durante o encontro, representantes da ONU enfatizaram a necessidade de envolver diretamente a população haitiana na reconstrução do país — com especial atenção para mulheres e jovens.
A crise política também atingiu um novo ápice com a queda do ex-primeiro-ministro Ariel Henry, deposto após um ataque coordenado por facções armadas. Em seu lugar, foi instaurado um frágil conselho de transição, que promete realizar eleições até fevereiro de 2026