Cerca de um ano após o lançamento de Senna, da Netflix, a disputa de narrativas sobre os bastidores da vida amorosa de Ayrton Senna (1960-1994) ganhou novos contornos com a chegada do documentário Meu Ayrton, por Adriane Galisteu à HBO Max.
Produzida com apoio da família do piloto, a minissérie da Netflix deu amplo destaque ao relacionamento dele com Xuxa Meneghel, 62 anos, chegando a dedicar praticamente um episódio inteiro à apresentadora. Já a presença de Adriane Galisteu, 52, foi significativamente curta, limitada a poucos mais de dois minutos de tela – o suficiente para gerar críticas sobre sua exclusão da história.
Como uma resposta direta a essa leitura, Galisteu, que era namorada do piloto quando este morreu, coloca a própria voz no centro da narrativa na produção da HBO Max, narrando em primeira pessoa sua convivência com o piloto, suas memórias íntimas e bastidores do relacionamento, sem a participação da família Senna nem de Xuxa, que não aceitaram o convite.
O contraste entre as obras evidencia não apenas escolhas estéticas e de gênero – ficção baseada em fatos versus memória documental -, mas sobretudo quem detém o controle da história. Com acesso amplo a arquivos e ao aval da família, a Netflix construiu um retrato mais “oficial”, no qual Xuxa aparece como peça-chave do imaginário público em torno do ídolo. Já a HBO Max abre espaço para que Galisteu reivindique seu lugar na narrativa e questione a representação limitada que recebeu na dramatização. No fim, as duas produções iluminam dois lados do mesmo personagem e reforçam que biografias audiovisuais são, antes de tudo, pontos de vista. Quem viveu, sabe.