O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deverá encaminhar uma carta aberta ao ministério da Fazenda após o estouro do teto da meta de inflação do mês de junho.
A carta é um instrumento de prestação de contas, em que o Banco Central deve explicar os motivos do descumprimento da meta, indicar as medidas tomadas para reverter o cenário e estimar o prazo necessário para que a inflação volte ao intervalo estabelecido. O documento, de caráter obrigatório, deve ser divulgado nesta quinta-feira, 10, conforme previsto nas regras do regime de metas inflacionárias.
Pela regra atual do sistema de metas de inflação, sempre que o índice passar do teto da meta (4,5%) em 12 meses por seis meses consecutivos, o presidente do BC precisa escrever uma carta para explicar o que houve e dizer quais medidas estão sendo tomadas. Esse sistema começou em janeiro, quando a meta estava em 4,56%, acima do teto.
Até dezembro, a carta era escrita com o fechamento do ano — o que obrigou Galípolo a também escrever uma carta no início do ano pelo descumprimento da meta em 2024.
Em audiência pública na Câmara dos deputados na quarta-feira, 9, Galípolo disse que os estouros incomodam o BC. “Nós todos do Copom (Comitê de Política Monetária) estamos bastante incomodados. Eu que já tenho esse começo que me incomoda demais na minha gestão de, em seis meses, ter que escrever a segunda carta de descumprimento da meta”, disse.
A declaração ocorre em meio a críticas crescentes sobre a atual nível da taxa de juros, fixada em 15% ao ano. Galípolo disse que parte das críticas que chegam ao BC sugerem que a autoridade monetária deveria flexibilizar a meta de inflação. Galípolo, no entanto, reforçou que a meta não é negociável. “Tenho visto que a maior parte das críticas a elevada taxa de juros de 15% está associada a uma sugestão de que não se devia cumprir a meta. É importante dizer que a meta não é uma sugestão, a meta é 3%, a banda da meta foi criada para você absorver choques”.