As preparações para uma novela das nove são intensas. Gabriela Loran, 32 anos, começa a entender isso ao descrever o ritmo frenético de gravações e ensaios. Antes mesmo de viver a farmacêutica Viviane em Três Graças, folhetim de Aguinaldo Silva, a atriz passou por uma radical transformação capilar: tirou os loiros que há tanto a acompanhavam, pintou de castanho amendoado e aplicou um longo megahair – um processo que lhe tomou quase três dias. “Quem colocou o meu megahair é o mesmo profissional que coloca na Susana Vieira. Aquele meme realmente é real, o megahair de seis mil reais no cabelo”, brinca ela à coluna GENTE.
Essas sutis alterações para Gabriela foram essenciais para interpretar a personagem que traz um pouco de sua história pessoal na trama. Natural de São Gonçalo, região metropolitana do Rio, a atriz nem sempre esteve no meio da atuação, seu primeiro trabalho foi em uma farmácia. A verdadeira paixão sempre foi a arte, um sonho que por um tempo acreditou não ser possível. “Não tinha esse capital, meus pais não tinham dinheiro de passagem para vir ao centro do Rio todos os dias. Precisava ajudar dentro de casa também, então o meu primeiro trabalho foi na farmácia”, recorda.
A rotina de atendente durou um ano. Inscreveu-se no vestibular do Centro de Artes de Laranjeiras (CAL) e passou a viver uma dupla jornada: de manhã, faculdade; à noite, trabalho de garçonete. “No teatro e na telefilmatologia dizemos que o personagem que escolhe a gente, não é a gente que escolhe o personagem. Acredito que a Viviane me escolheu”, diz, um tanto emocionada.
Assim como Gabriela, Viviane também é uma mulher trans que sente na pele a discriminação. “No final da minha faculdade, bati martelo e disse para o mundo que eu era a Gabriela, mas ao mesmo tempo, colegas de trabalho falavam: ‘você sabe que não vai trabalhar, sabe que só vai fazer prostituta, porque pessoas trans são representadas dessa forma no audiovisual’. Por mais que eu tenha escutado isso de muitas pessoas, nunca dei atenção”. Eis que a roda girou e Gabriela passou longe de seguir o caminho que predestinaram a ela. Começou com Malhação: Vidas Brasileiras (2012) e estreou no horário nobre em Renascer (2024).
A abertura para diversidade na televisão brasileira tem sido crescente: aos poucos, mais pessoas trans têm oportunidade de aparecer em um folhetim. Gabriela pontua que, apesar de ter sempre em pauta sua militância, não se define por isso. “Venho fazendo entrevistas e reivindicando esse lugar de não só ajudar com oportunidade, mas de colocar pessoas trans e negras em lugares de relevância na história. O mais gostoso também é que o papel é trans, mas trans não define a mulher que ela é”, diz Gabriela, que busca o protagonismo tão almejado.