Não faz tanto tempo assim, o ministro Luiz Fux, então presidente do STF, teve que praticamente entrincheirar-se no prédio da Corte com mais de 150 policiais para acompanhar as manifestações bolsonaristas de 7 de setembro de 2021.
Naqueles dias, inflamados pelo discurso de Jair Bolsonaro contra o Supremo, caminhoneiros invadiram a Esplanada com mais de cem caminhões.
A tensão no ar, com um risco real de ataque ao Supremo, é lembrada ainda hoje por ministros do STF que tiveram de praticamente se isolar em endereços fortemente protegidos da capital enquanto milhares de bolsonaristas atendiam ao chamado do então presidente para protestar contra a Corte.
Chefe do STF, Fux discursou em defesa da democracia na primeira sessão do Supremo, após o feriado tenso na capital federal.
A fala de Fux tinha um objetivo: fazer com que os caminhoneiros, que haviam ocupado a Esplanada, decidissem voltar para suas casas. Eles permaneciam a postos na capital, em um ameaçador cerco aos poderes, diante do silêncio de Bolsonaro no Planalto.
Quem resolveu a questão foi o ex-presidente Michel Temer, que redigiu uma carta de pacificação divulgada por Bolsonaro, como revelou o Radar na época.
O episódio foi tão marcante para Fux que, em 7 de setembro de 2022, já na reta final do seu mandato na presidência do STF, o ministro voltou a se reunir com os policiais da Corte, diante de mais um feriado com ameaças golpistas alimentadas por Bolsonaro e seus apoiadores contra o Supremo. A foto do encontro de Fux com sua “tropa” foi registrada pelo Radar naquele ano.
Por uma dessas ironias do destino, o presidente do STF mais atacado por Bolsonaro será o responsável por votar, nesta manhã, na ação do golpe. Se Fux seguir o relator Alexandre de Moraes, reconhecendo a obra golpista do ex-presidente, estará forma da a maioria pela condenação de Bolsonaro e dos outros réus da trama golpista.
Fux, o atacado, certamente não esqueceu o que viveu. Os bolsonaristas que atacaram e ameaçaram, no entanto, tratam o ministro como esperança de uma virada de jogo no julgamento nesta quarta. Quem bate esquece…