O fungo Cladosporium sphaerospermum, encontrado nas paredes internas de uma das áreas mais radioativas da zona de exclusão de Chernobyl, voltou a chamar a atenção da ciência. Estudos realizados desde o fim dos anos 1990 mostram que a espécie não apenas resiste à radiação ionizante, como também cresce de forma mais robusta quando exposta a ela. A característica faz o organismo prosperar em locais onde humanos não podem permanecer, levantando hipóteses sobre mecanismos biológicos ainda não compreendidos.
A radiação ionizante, normalmente prejudicial à maior parte dos organismos, não parece afetar o fungo da mesma forma. Ela é capaz de quebrar moléculas, alterar reações químicas e danificar DNA. Porém, C. sphaerospermum se comporta de forma incomum, mantendo crescimento estável e até acelerado em ambientes onde essas partículas energéticas estão presentes.
Em experimentos controlados, o fungo apresentou desempenho superior sob radiação, o que levantou a possibilidade de que o pigmento melânico desempenhe algum papel na proteção ou no aproveitamento desse tipo de energia.
O fungo realmente “usa” radiação como energia?
Ao longo dos anos, alguns trabalhos propuseram a hipótese de radiossíntese, um processo em que a radiação seria convertida em energia útil para o metabolismo, de modo semelhante ao que acontece com a luz na fotossíntese das plantas. A ideia parte de observações de que a radiação altera o comportamento da melanina no fungo, sugerindo uma possível via de transformação energética.
No entanto, os mecanismos permanecem indefinidos. Pesquisadores ainda não conseguiram demonstrar etapas fundamentais, como fixação de carbono dependente de radiação ou aumento metabólico diretamente ligado à absorção dessas partículas. Sem essas provas, a radiossíntese segue apenas como hipótese.
O que se sabe, por meio de estudos comparativos, é que outros fungos escuros também apresentam respostas diferenciadas à radiação; alguns intensificam a produção de melanina; outros exibem crescimento mais rápido. Ainda assim, o comportamento de C. sphaerospermum permanece o mais extremo e consistente entre as espécies analisadas.
Por que isso importa para a ciência?
Os ambientes radioativos costumam provocar danos severos a células, moléculas e tecidos. Um organismo que se mantém ativo e cresce sob condições tão extremas representa uma oportunidade de entender novos caminhos de adaptação. As respostas de C. sphaerospermum podem ajudar a desenvolver materiais de proteção para humanos em áreas contaminadas ou em viagens espaciais, além de inspirar estudos sobre resistência biológica.
Mesmo assim, o funcionamento interno do fungo continua obscuro. Não há confirmação de que ele aproveite a radiação como fonte de energia, nem registro de reações bioquímicas que expliquem seu desempenho incomum. O que existe, por enquanto, são sinais claros de que ele se beneficia de ambientes hostis e utiliza a melanina como parte de uma estratégia de sobrevivência ainda não decifrada.