A maior mesquita de Sanaa, capital do Iêmen, recebeu nesta segunda-feira, 1º, milhares de pessoas para o funeral de doze líderes hutis, incluindo seu primeiro-ministro, mortos por Israel na semana passada. Esse foi o primeiro ataque israelense a assassinar membros da alta cúpula do grupo rebelde iemenita, e atingiu um grupo que havia se reunido para assistir a um discurso transmitido pela TV de Abdul Malik al-Houthi, principal liderança da facção.
Durante as homenagens do rito fúnebre, os presentes entoaram o slogan huti “Deus é Grande, Morte à América, Morte a Israel, Maldição aos Judeus, Vitória ao Islã”. Enquanto isso, Mohammed Miftah, agora chefe político do grupo que governa parte do Iêmen em aliança com o Irã, jurou vingança contra os israelenses e afirmou que vai redobrar a repressão contra espiões no território que os rebeldes controlam.
“Estamos diante do império de inteligência mais forte do mundo, aquele que teve como alvo o nosso governo — todos os sionistas, incluindo o governo americano, a entidade sionista (Israel), os árabes sionistas e os espiões dentro do Iêmen”, declarou Miftah à multidão na mesquita de Al Saleh.
Ele tornou-se líder interino do governo huti no sábado, após a morte do primeiro-ministro Ahmad Ghaleb al-Rahwi no ataque israelense. Al-Rahwi era considerado uma figura decorativa e não fazia parte do círculo interno de poder. Miftah foi seu vice.
Os hutis conduziram uma operação nos escritórios das Nações Unidas em Sanaa no domingo 31, que levou à detenção de pelo menos 11 funcionários da organização. Apesar de não darem justificativa para as ações, funcionários iemenitas da ONU e de outras agências humanitárias já foram presos anteriormente por suspeita de espionagem.
Na sexta-feira passada, Israel afirmou que o alvo de seu ataque aéreo eram o chefe de gabinete dos hutis, o ministro da Defesa do grupo e outros altos funcionários. Ainda não está claro se o poderoso ministro Mohamed al-Atifi, que comanda o Grupo de Brigadas de Mísseis, está vivo ou morto. Ele não fez aparições desde o ataque.
Liderança preservada
O líder Abdul Malik al-Houthi, que continua vivo, tornou-se nos últimos anos um dos aliados árabes mais proeminentes do Irã — e uma pedra no sapato de Israel —, após as forças israelenses terem enfraquecido muitos de seus inimigos na região, incluindo o Hezbollah, facção aliada de Teerã no Líbano.
Desde o início da guerra Israel-Hamas em Gaza, em 7 de outubro de 2023, os hutis têm atacado embarcações na importante rota comercial do Mar Vermelho, no que descrevem como atos de solidariedade aos palestinos. As investidas atraíram contra-ataques dos Estados Unidos e de Israel.
Em maio, o presidente americano, Donald Trump, determinou uma pausa nos bombardeios após uma breve campanha aérea contra o grupo iemenita, afirmando que ele havia obtido um acordo dos hutis para interromper as sabotagens a rotas marítimas no Oriente Médio. Mas a facção, um dos últimos aliados do Irã ainda de pé no Oriente Médio, prometeram continuar atacando Israel e navios ligados a Israel. Nesta segunda-feira, os rebeldes afirmaram ter lançado um míssil contra o petroleiro israelense “Scarlet Ray”, de bandeira liberiana, perto da cidade portuária de Yanbu, no Mar Vermelho, na Arábia Saudita.