A primatóloga Jane Goodall, uma das cientistas mais influentes do século 20, foi despedida nesta quarta-feira,12, em uma cerimônia marcada por emoção, simbolismo e forte presença de figuras públicas engajadas em causas ambientais. Ela morreu em 1º de outubro, aos 91 anos, durante uma viagem para uma turnê de palestras na Califórnia. O Instituto Jane Goodall informou que a pesquisadora faleceu “pacificamente, enquanto dormia”.
A despedida ocorreu na Catedral Nacional de Washington, um dos espaços cerimoniais mais importantes dos Estados Unidos. As cinzas da ambientalista foram levadas ao local por volta das 11h, recebidas por uma guarda de honra formada por cerca de 20 cães de resgate, uma homenagem direta ao modo como Goodall enxergava a conexão entre humanos e outros animais. A imagem dos cães alinhados nos degraus da catedral rapidamente se tornou o símbolo do funeral.

O que marcou a cerimônia em Washington?
A cerimônia reuniu familiares, amigos, cientistas, ativistas e autoridades políticas. Entre os presentes estavam Leonardo DiCaprio, amigo pessoal da primatóloga; deputada norte-americana Nancy Pelosi e o chef José Andrés, fundador da World Central Kitchen.
Os três netos de Goodall discursaram, assim como Anna Rathmann, diretora-executiva do Instituto Jane Goodall nos EUA, que destacou os “muitos superpoderes” da ambientalista. Segundo ela, Goodall “atravessava abismos” que separavam humanos e outros animais e mantinha firmeza sem agressividade: “Era direta, mas jamais hostil; sempre gentil, nunca condescendente”.
O momento mais comentado veio com o discurso de DiCaprio, que relembrou a amizade entre os dois e celebrou sua importância para a ciência e para a educação ambiental. O ator descreveu Goodall como “gentil, curiosa, engraçada, espirituosa e absolutamente imparável”, frase que repercutiu amplamente na imprensa internacional.

Qual é o legado científico e ambiental de Goodall?
Nascida em Londres, Goodall revolucionou o estudo do comportamento animal ao iniciar, em 1960, sua convivência com grupos de chimpanzés na Tanzânia. Na época, era inédito que uma mulher realizasse trabalho de campo sozinha em regiões remotas da África. Sua pesquisa, a mais longa já conduzida sobre animais selvagens, transformou a compreensão científica sobre o comportamento, a inteligência e a organização social dos chimpanzés.
Foi Goodall quem documentou, pela primeira vez, que chimpanzés criam e utilizam ferramentas; algo até então associado exclusivamente à espécie humana. Suas observações mudaram a maneira como a biologia, a antropologia e a psicologia evolutiva entendem as fronteiras entre humanos e outros primatas.
Além da contribuição científica, Goodall se tornou uma das mais importantes vozes globais da conservação ambiental. Fundou, em 1977, o Instituto Jane Goodall e, anos depois, o programa Roots & Shoots, que engaja jovens de todo o mundo em ações comunitárias e ambientais. Ela também atuou como Mensageira da Paz da ONU.