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Freio de arrumação

Nesta segunda-feira, 29, o governador Tarcísio de Freitas vai visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro, detido em prisão domiciliar na sua casa no Jardim Botânico, em Brasília, para afirmar que não pretende ser candidato a presidente em 2026. Meses atrás, quando o governo Lula da Silva fazia água, Bolsonaro deu sinais de que apoiaria Tarcísio e que o anúncio ocorreria depois da condenação pelo STF. Nenhum dos dois previu Eduardo Bolsonaro.

Como informou o repórter Fernando Rodrigues, do Poder360, o governador deve sugerir na conversa que o melhor candidato da oposição é o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD).

Assediado pelo Centrão e incensado pela Faria Lima, Tarcísio passou os últimos meses trabalhando ativamente para formar uma coalizão que reunisse o antipetismo do centro até a extrema direita. Neste meio tempo, Eduardo Bolsonaro e seu guru Paulo Figueiredo conseguiram que os EUA iniciassem uma guerra comercial contra o Brasil, que terminou impulsionando a candidatura Lula e carregando a oposição para uma espiral de desgastes.

A preços de hoje, para ser candidato a presidente Tarcísio teria de renunciar a uma reeleição quase garantida para governador de São Paulo sem nenhuma garantia. A última pesquisa Genial/Quaest mostrou que o presidente Lula da Silva vence em todos os cenários. Numa simulação de segundo turno contra Tarcísio, Lula venceria por 43% a 35%. Em maio, eles estavam empatados.

Segundo a Genial/Quaest, Tarcísio é conhecido por apenas 66% dos eleitores, mas vive um dilema para ganhar mais exposição. Neste momento, ele ganha mais repercussão com um discurso de direita (como no evento do Sete de Setembro em que atacou o ministro Alexandre de Moraes), mas isso afasta o eleitor independente – que, no final das contas, é quem vai decidir a eleição. Mas toda vez que faz um gesto para o centro, ele é atacado pela guerrilha digital dos Bolsonaros.

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Os interlocutores que conversaram recentemente com o governador sentem a sua profunda irritação com Eduardo Bolsonaro e a incapacidade da família em controlar o deputado exilado nos EUA. Na quarta-feira, dia 24, o líder do PL, Sóstenes Cavalcanti, esteve com Eduardo e Figueiredo em Miami para levar uma ordem do pai para que baixasse o tom beligerante, incluindo uma ameaça de corte da mesada.

No dia seguinte, Eduardo postou no X: “vocês se acostumaram a lidar com homens ocos, sem convicção. Personalidades fracas e acovardadas, que se vendem e se submetem aos poderes materiais da ocasião. Pela primeira vez terão que lidar com pessoas de convicção”.

Desde o fim de julho, quando Donald Trump anunciou as sanções contra o Brasil a pedido de Eduardo, o deputado já disse que o governador é um oportunista “que só vai resolver o problema da Faria Lima” e “sempre esteve de braço cruzado vendo Jair Bolsonaro se foder e se aquecendo para 2026”. Em entrevista ao site Metrópoles, Eduardo previu que “se o Tarcísio for eleito (presidente), fica difícil ter uma participação nossa (da família Bolsonaro, no governo). Qual é o secretário bolsonarista que existe no governo Tarcísio? Não tem”. Ele ameaçou deixar o PL caso o governador se filie ao partido, sugerindo que isso poderia “apagar a família Bolsonaro do cenário político”.

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O monitoramento das redes sociais do governador registra que os ataques a ele são quase todos de perfis ligados a Eduardo, e não, como seria de se esperar, de esquerdistas. Nesta semana, Tarcísio fez uma declaração inodora sobre a derrota da PEC da Blindagem. “A população percebe que está indo para um caminho de privilégios, impunidade e se revolta. Você não pode se desconectar daquilo que as pessoas pensam. Quando houve essa desconexão, houve protesto”, disse. Logo depois, Eduardo o criticou por atacar a PEC por “puro medo politiqueiro”.

No último contato entre os dois, por videoconferência, Tarcísio previu que as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil trariam consequências negativas para a direita, fortaleceriam Lula e, ao final, por pressão do empresariado americano, Donald Trump adotaria uma solução pragmática. Depois dos acenos de Trump a Lula, Tarcísio recordou a vários interlocutores que estava certo.

O fio desencapado Eduardo Bolsonaro, no entanto, é só uma parte do problema. Há ainda a falta de estratégia do Centrão no Congresso. Enquanto assedia Tarcísio e pressiona Bolsonaro para escolher o governador, o Centrão tem deixado aprovar as pautas que ajudarão Lula nas eleições de 2026: concessão de luz elétrica de graça para 18 milhões de pessoas, distribuição de botijões de gás para 16 milhões e isenção do imposto de renda até R$ 5 mil reais. Nas próximas semanas, o Congresso vai votar a Medida Provisória 1303 que aumenta vários impostos e aumenta em quase R$ 25 bilhões a arrecadação do governo para o ano que vem.

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Tarcísio também se incomoda com o assédio dos presidentes do PP, Ciro Nogueira, que quer ser seu candidato a vice, e do PL, Valdemar da Costa Neto, que impõe sua filiação ao partido para aceitar a candidatura.

Como é altamente improvável que Jair Bolsonaro faça alguma definição antes da votação do projeto de redução de pena no Congresso, o encontro de segunda-feira será lido publicamente como uma desistência de Tarcísio.

Não se deve, porém, tomar essa postura do governador como definitiva. É um freio de arrumação. Tarcísio vai se dedicar a São Paulo e deixar que a oposição dividida tente articular uma candidatura viável até o Carnaval. Se conseguirem, Tarcísio vai para a reeleição. Se não, ele estará no Palácio dos Bandeirantes pronto para dar as suas condições.

Segundo interlocutores, Tarcísio acredita que precisa (1) do apoio explícito e unificado da família Bolsonaro. O governador lembrou o caso do prefeito Ricardo Nunes que, no passado, apesar ter o apoio formal de Bolsonaro, foi abandonado durante a campanha. Além disso, para enfrentar Lula, o governador acredita (2) ser imprescindível uma chapa nacional dos partidos PL, PSD, PP, UB e Republicanos e, last but not least, (3) que a decisão sobre candidatos em São Paulo seja exclusiva dele. Nessas condições, Tarcísio voltaria ao jogo.

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