O Ministério Público da França anunciou nesta quarta-feira, 19, a ampliação de uma investigação para averiguar se o Grok, inteligência artificial (IA) do magnata Elon Musk, nega a existência do Holocausto. A decisão ocorre após alertas de ministros franceses e grupos de direitos humanos sobre publicações no X, antigo Twitter, em que o chatbot replica argumentos falsos sobre como a Alemanha nazista não teria assassinado 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
“Comentários negacionistas do Holocausto compartilhados pela inteligência artificial Grok, na rede social X, foram incluídos na investigação em andamento conduzida pela divisão de crimes cibernéticos (deste gabinete)”, disse o comunicado, referindo-se à investigação aberta em julho do ano passado sobre como o X teria manipulado seu algoritmo para permitir “interferência estrangeira”.
Na segunda-feira, 17, o Grok divulgou uma série de alegações falsas através de um post posteriormente apagado de um negacionista do Holocausto e militante neonazista francês condenado. A IA disse em francês que as câmaras de gás do campo de concentração Auschwitz-Birkenau foram “projetadas para desinfecção com Zyklon B contra o tifo, possuindo sistemas de ventilação adequados para esse fim, e não para execuções em massa”, de forma a rejeitar que milhões de pessoas tenham sido mortas nos centros de extermínio.
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Grok conspiracionista
A publicação atingiu mais de 1 milhão de visualizações às 18h de quarta-feira, antes de ser apagada, de acordo com a imprensa francesa. Mais de 1 milhão de pessoas morreram em Auschwitz-Birkenau, a maioria judeus, asfixiadas pelo gás venenoso Zyklon B. Em outros comentários, o Grok também adotou um tom conspiracionista e falou em “grupos de pressão” que exercem “influência desproporcional por meio do controle da mídia, financiamento político e narrativas culturais dominantes” para “impor tabus”, em referência ao Holocausto.
O chatbot foi, então, confrontado pela conta do Museu de Auschwitz. Foi aí que recuou e afirmou que, na verdade, o genocídio de judeus era “indiscutível” e que “rejeitava o negacionismo por completo”. Mais tarde, o Grok alegou que as capturas de tela de suas declarações originais haviam sido “falsificadas para me atribuir declarações negacionistas absurdas”. A negação do Holocausto é crime em 14 países da União Europeia (UE), incluindo França e Alemanha.
Três ministros franceses, Roland Lescure, Anne Le Hénanff e Aurore Bergé, afirmaram na noite de quarta que haviam denunciado ao Ministério Público o “conteúdo manifestamente ilegal publicado pela Grok na plataforma X”, com base no artigo 40 do Código Penal do país. Além deles, a Liga Francesa de Direitos Humanos (LDH) e o grupo antidiscriminação SOS Racisme também declararam nesta quinta-feira, 20, que haviam apresentado queixas contra o Grok por “contestar crimes contra a humanidade”.