Os arquivos relacionados a Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes morto por suicídio na prisão em 2019, devem ser obrigatoriamente divulgados até a meia-noite desta sexta-feira, 19. Após meses de esforços bipartidários, atrasos e adiamentos, o governo de Donald Trump é forçado pela Lei de Transparência dos Arquivos Epstein, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em novembro, a publicar “todos os registros, documentos, comunicações e materiais de investigação não classificados” do caso.
O Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) pode, contudo, reter arquivos que identifiquem vítimas, o que inclui vídeos de abuso sexual infantil, ou que sejam considerados sigilosos. Como nas outras divulgações, partes dos documentos podem ser censuradas para proteger as mulheres abusadas, como seus nomes, rostos e cidades. Mas a legislação exige que a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, apresente um resumo que não seja confidencial para explicar o motivo de cada informação ter sido ocultada.
De todo modo, há receio entre a oposição de que o governo use essa cláusula como justificativa para não divulgar registros que prejudiquem o presidente Donald Trump, antigo amigo de Epstein, que apareceu em várias fotos em lotes anteriores. A relação entre os dois é antiga: eles faziam parte de círculos sociais de elite de Nova York e da Flórida. Em 2002, Trump disse à revista New York que o financista era “fantástico” e “muito divertido de se estar por perto”. O republicano também contou que a dupla se conhecia há 15 anos, acrescentando: “Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são do tipo mais jovem”.
Nas últimas semanas, Comitê de Supervisão da Câmara dos Estados Unidos, liderado por democratas, divulgou dezenas de fotos do espólio de Esptein. Nelas, estavam proeminentes figuras americanas para além do líder americano: o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon; o ex-presidente Bill Clinton, do Partido Democrata; o cofundador da Microsoft, Bill Gates; o ex-presidente de Harvard, Larry Summers; o cineasta americano Woody Allen; e o filósofo Noam Chomsky. Há também imagens de partes de corpos femininos com trechos de Lolita, um romance do russo Vladimir Nabokov sobre a obsessão sexual de um homem por uma menina de 12 anos.
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Entenda o caso
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza (notadamente, o príncipe Andrew) e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores em 2008. As acusações que o levaram à prisão em 2019 ocorreram mais de uma década após um acordo judicial que o protegia. Ele foi encontrado morto por enforcamento pouco mais de um mês após parar atrás das grades.
Como promessa de campanha, Trump disse que liberaria os documentos relacionados ao caso se retornasse à Casa Branca. Em janeiro, quando o republicano publicou arquivos sobre a investigação, um clima de insatisfação tomou conta: as informações divulgadas já eram conhecidas. Pressionado, o presidente dos EUA virou alvo de uma teoria da conspiração dentro da sua base política, a Make America Great Again (MAGA), de que está em uma lista secreta de pessoas que se beneficiavam do esquema de Epstein.
Em setembro, os democratas da Câmara divulgaram uma suposta carta de Trump a Epstein. O documento já havia sido publicado pelo jornal americano The Wall Street Journal em julho, mas o republicano negou a veracidade. Tratava-se de um desenho de uma mulher nua com mensagens insinuantes, parte de um álbum de aniversário organizado para o financista em 2003.
No X, antigo Twitter, os democratas afirmam que receberam o “bilhete de aniversário de Trump para Jeffrey Epstein, que o presidente disse não existir”, questionando: “O que ele está escondendo? Divulgue os arquivos!”, em referência aos apelos para que todos os documentos relacionados ao caso Epstein sejam tornados públicos. A nota assinada por Trump diz, dentro dos contornos de um corpo feminino: “Feliz aniversário – e que cada dia seja outro segredo maravilhoso”.
Em resposta, o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Taylor Budowich, alegou que a assinatura na carta não é de Trump. Também no X, ele compartilhou documentos assinados recentemente pelo presidente dos EUA numa tentativa de comprovar a falsificação. Mas uma reportagem do jornal americano The New York Times, publicada em 2016, mostra que a assinatura do republicano evoluiu e mudou com o passar do tempo. Os documentos obtidos pelo NYT mostram assinaturas muito parecidas com a do bilhete a Epstein.