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‘Fizemos de tudo’, disse Wanderléa a VEJA sobre a Jovem Guarda

Nesta sexta-feira, 22 de agosto, completam-se sessenta anos desde que o programa Jovem Guarda primeiro foi ao ar na TV Record e anunciou seu movimento musical e comportamental homônimo Altamente inspirado nas tendências do rock’n’roll dos Estados Unidos e, especialmente, da Inglaterra, os brotos do filão queriam se divertir como os Beatles e se vestir como o The Who. Já Wanderléa, apelidada Ternurinha por Roberto Carlos, queria as minissaias de Jane Fonda. Com o visual inconfundível, ela emplacou sucessos como Pare o Casamento e, claro, Ternura, e, quando a moda passou, permaneceu ativa, passando por diversas outras sonoridades. Entre elas, se debruçou sobre o choro — que cantava na infância — no disco Wanderléa Canta Choros, de 2023. Na ocasião do lançamento, então aos 78 anos, ela sentou para conversa com VEJA e relembrou os idos do iê-iê-iê:

O público acostumado à Wanderléa da Jovem Guarda pode se surpreender com sua familiaridade ao chorinho, mas explorar diferentes gêneros musicais não é novidade para você. Como você concilia fases artísticas? Comecei a carreira muito menina e tentei vários gêneros. Na rádio, eu ouvia os choros cantados por Ademilde Fonseca, que cantava muito rápido, e via aquilo como um desafio. Depois da Jovem Guarda, quando fiz discos com o Egberto Gismonti, sempre colocava um choro, porque era algo que remetia a minha infância. Gosto é das coisas diferentes, porque acho que sou mais intérprete que qualquer outra coisa.

De todos os compositores cujas canções você já encarnou — e os que ainda faltam —, quais os seus favoritos? Gosto que a música caia bem, não que seja apenas uma novidade ou que venha de um autor importante ou da nova geração. Meus favoritos são, claro, todos os grandes escritores brasileiros, mas ainda gostaria de cantar a música dos mineiros e também de realizar um trabalho com as cantoras do rádio, para além do chorinho. Tenho uma série de projetos que quero fazer, e fico justamente pensando nos autores e nas melodias.

Das minissaias a seu icônico ensaio nu grávida em 85, você se consagrou como ícone sexual e da moda. Hoje, você acredita que ainda seja possível provocar? Nós fizemos tanta coisa nos anos 1960, de tudo. Com Barbarella, de 1968, eu disse: “Nossa, isso é maravilhoso. Quero fazer igual e quero ter uma minissaia igual à dela.” Agora está tudo liberado, as mulheres estão muito mais soltas e não existe tanta repressão, ou então elas a enfrentam com atitude, são mais poderosas, então não há nada que me espante. Fico feliz com a colocação das mulheres jovens.

Quantos dos seus visuais mais famosos você manteve consigo? Sempre me preocupo muito com o visual. Tenho ainda boa parte do guarda-roupa da Jovem Guarda. Minhas filhas têm vontade de montar uma exposição — e acho que deveria acontecer sim.

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Seu pai e sua avó se opuseram a sua carreira musical por motivos de gênero. Desde então, o machismo na música mudou? As coisas vão se modificando pela atuação das mulheres. Acho que o homem está se tocando mais. Vejo meu genro e meu marido, que já era de trocar fralda, cozinhar junto e atuar no cotidiano da família. Anteriormente, a mulher fazia tudo e o marido queria tudo na mão. Com a Jovem Guarda, nós forçamos uma modificação porque a participação dos jovens foi muito forte e a sociedade teve que ceder um pouco mais. Desde então, as relações estão se formando cada vez mais de uma maneira amigável e companheira, mas ainda tem muita coisa a acrescentar. 

Muitos dos seus contemporâneos foram eternizados no cinema, e você mesma foi vivida por Malu Rodrigues no filme Fama de Mau, focado na história do Erasmo. Você gostaria de ver uma biografia sua no cinema? A Malu é maravilhosa. Assisti ao filme comendo pipoca junto do Erasmo e gostei muito. Ela é uma grande cantora e uma grande atriz. Já tenho contrato para outros projetos em filme e streaming, mas a pandemia congelou tudo. Agora, quem sabe — mas eu não sou muito de perseguir projetos, penso neles e deixo que venham naturalmente. Na hora, estou sempre pronta.

Não posso deixar de citar a partida de Erasmo Carlos em 2022. Hoje, o luto é um pesar ou combustível para sua arte? Sofri com o luto muitas vezes na vida e descobri que a melhor maneira de lidar com ele é encontrar os amigos e familiares que se foram na forma de entidades encantadas, que estão sempre nos acompanhando aqui. Espero que, depois da nossa passagem, possamos reencontrar nossos amados. Eu não consigo imaginar o Erasmo longe. Para mim ele está muito vivo, seja no meu coração, no meu afilhado [Leonardo Esteves, filho de Erasmo], no que fizemos juntos ou em tudo que ele deixou como um dos maiores compositores do Brasil. Me recuso a imaginar o Erasmo não estando conosco — ele continua presente na minha vida até hoje.

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