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Filhas de Silvio Santos irritaram Zezé Di Camargo e honraram tradição política do pai com convite a Lula

Na última sexta-feira, 12, a família Abravanel abriu as portas do SBT para a inauguração do canal de notícias SBT News, que estreia oficialmente nesta segunda-feira. A cerimônia pomposa contou com a presença de celebridades e autoridades nacionais, além de um discurso do presidente Lula (PT), que compareceu ao lado do vice Geraldo Alckmin. A participação do político irritou bolsonaristas nas redes sociais, e o cantor Zezé Di Camargo acusou as filhas de Silvio de Santos de não honrarem a posição política do pai, pedindo que seu especial de natal já gravado não seja mais exibido no canal. O sertanejo, no entanto, não poderia estar mais errado: ao convidar Lula para o evento, as filhas de Silvio honram o costume do pai de bajular presidentes, independente do partido ou regime político.

Parte da televisão brasileira por mais de quatro décadas, Silvio Santos presenciou as mais diversas mudanças no cenário político e social do país. Para se manter no topo, o criador do SBT teve que desenvolver jogo de cintura, e se tornou um dos mais ágeis malabaristas do status quo brasileiro, recorrendo a diferentes alianças e conciliações de acordo com o momento, com apoio declarado aos militares durante a ditadura e relação cordial com todos os presidentes eleitos nas últimas décadas — inclusive Lula. Em uma entrevista de 1998, o fundador do SBT declarou ser um ‘office-boy de luxo do governo’. ‘Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime’, atestou ele na ocasião.

A proximidade com o cargo máximo do executivo começou com João Figueiredo, que viabilizou a concessão de parte dos canais da TV Tupi para sua posse e, assim, oficializou a existência do SBT. Daí em diante, o canal passou a veicular o quadro A Semana do Presidente, que era custeado pelo Estado e resumia os feitos dos líderes nacionais, sempre com ar positivo e patriota. O programa continuou no ar até 1996 e é lembrado por episódios como o de 1992 que anunciava a festa de aniversário do então presidente Fernando Collor.

Abertamente alinhado com a direita, Silvio Santos não escanteou figuras proeminentes da esquerda — e foi até mesmo homenageado por algumas delas. Em 2021, foi ao ar no SBT um documentário em comemoração aos 40 anos da emissora, filmado cinco anos antes como parte das celebrações dos 85 anos do apresentador, mas engavetado e recuperado mais tarde. Nele, tanto Lula quanto Dilma Rousseff, ainda presidente na época das filmagens, demonstram respeito e admiração por ele ao comentar sua tentativa de candidatura à presidência do Brasil em 1989 — ano em que Collor foi eleito e Lula concorreu pela primeira vez.

O petista também se encontrou com Silvio Santos em 2010, quando recebeu o fundador do SBT no Palácio do Planalto, em Brasília, para falar sobre o Teleton. O encontro aconteceu em meio à crise do Banco Panamericano, o que levantou rumores de que o assunto também teria sido tratado na reunião. Antes disso, Lula já havia aparecido em mensagens enviadas ao SBT e em eventos ligados ao Teleton, e chegou a ser sabatinado no canal campanha presidencial de 1989. O fundador do SBT também não tecia críticas públicas ao ex-sindicalista, mantendo uma postura institucional.

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Após o impeachment de Dilma Rousseff, com quem também manteve relação institucional, Silvio se aproximou de Michel Temer e chegou a recebê-lo em seu programa dominical. A reação

Após o impeachment de Dilma Rousseff, Silvio se aproximou de Michel Temer e chegou a recebê-lo em seu programa dominical. A reação nas redes, no entanto, é fruto da relação com Bolsonaro: logo após a eleição de 2018, em novembro, o canal passou a veicular breves vinhetas nacionalistas alinhadas à campanha que o político então filiado ao PSL havia encabeçado. Em uma delas, a bandeira do país vinha acompanhada de um slogan do governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974): “Brasil, ame-o ou deixe-o”, enquanto outra era sonorizada pela canção Eu te amo, meu Brasil, jingle do regime. 

No mesmo ano, Silvio chegou a receber uma ligação de Bolsonaro ao vivo durante o Teleton e esbanjou elogios ao então presidente. Em 2020, o político recriou o Ministério das Comunicações e convocou o genro de Silvio para sua liderança, o empresário Fábio Faria, casado com Patrícia Abravanel. Ao longo de seu mandato, ele também chegou a reduzir a verba de publicidade destinada à Rede Globo, elevando a Record e o SBT à primeira e segunda posição no ranking de beneficiários entre 2019 e 2020. Como agradecimento, Silvio chegou a esboçar um retorno do quadro Semana do Presidente, mas o projeto foi congelado.

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Desde a derrota de Bolsonaro na eleição de 2022, contudo, o apresentador flexibilizou seu apoio e, em julho de 2023, chegou a conversar com Lula por telefone durante uma reunião entre o presidente e o restante do clã Abravanel, mostrando-se mais uma vez disposto a abraçar o chefe de Estado vigente independente de posições pessoais. Na inauguração do SBT News, inclusive, Daniela Beirute, filha de Silvio e atual presidente do SBT, relembrou em seu discurso que o pai gostava de receber políticos, mostrando-se alinhada com a tradição de Silvio — ao contrário do que atestou incorretamente o sertanejo.

 

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