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Filha recebe Nobel em nome de María Corina e diz que mãe vai continuar luta contra Maduro

Ana Corina Sosa Machado, filha da líder opositora venezuelana María Corina Machado, recebeu nesta quarta-feira, 10, o Nobel da Paz em nome da mãe, que viajou à capital norueguesa, Oslo, sob “risco extremo” mas não chegou a tempo da cerimônia. Em discurso escrito pela laureada do ano e lido por Ana, Machado prometeu continuar sua luta contra o regime de Nicolás Maduro para libertar a Venezuela da “corrupção obscena”, “ditadura brutal” e “desespero” que há anos corroem o país.

Machado, 58 anos, vive há mais de um ano na clandestinidade, desde que Maduro foi declarado reeleito no pleito de julho de 2024 pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), instituição tomada pelo chavismo. Sob acusações de fraude, a eleição foi questionada mundialmente devido à recusa do regime em mostrar os dados que comprovariam resultados. A opositora, proibida de deixar a Venezuela há dez anos, teve a candidatura barrada por uma manobra do Judiciário e nomeou o diplomata Edmundo González Urrutia como seu sucessor (ele, por sua vez, hoje vive exilado em Madri).

No discurso lido pela filha, Machado prometeu continuar liderando a Venezuela em sua “longa marcha rumo à liberdade”.

“A Venezuela voltará a respirar”, disse ela. “Abriremos as portas das prisões e veremos milhares de pessoas injustamente detidas caminharem sob o sol, finalmente abraçadas por aqueles que nunca deixaram de lutar por elas. Voltaremos a nos abraçar. A nos apaixonar. Ouviremos nossas ruas se encherem de risos e música.”

O pronunciamento também imputou o regime autoritário de Hugo Chávez pela decadência da Venezuela e falou sobre corrupção estatal no rico setor do petróleo. “A partir de 1999, o regime desmantelou nossa democracia. Passamos quase três décadas lutando contra uma ditadura brutal.”

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Na abertura da cerimônia nesta quarta, o presidente do comitê norueguês do Nobel, Jorgen Watne Frydnes, celebrou o “trabalho incansável de Machado na defesa dos direitos democráticos e sua luta por uma transição pacífica e justa da ditadura para a democracia”, acrescentando que a ativista estava “segura” e chegaria a Oslo nas próximas horas após “uma viagem em situação de extremo perigo”. Não ficou claro como Machado conseguiu escapar da Venezuela, mas em uma mensagem de áudio divulgada por sua equipe, ela afirmou que contaria sobre o périplo em pessoa.

Ao lado de um retrato da opositora venezuelana, Frydnes enviou uma mensagem direta a Maduro: “Você deve aceitar os resultados das eleições e renunciar, porque essa é a vontade do povo venezuelano. Que uma nova era comece.”

Líderes e celebridades da América Latina, incluindo os presidentes direitistas Javier Milei (Argentina), Daniel Noboa (Equador), José Raúl Mulino (Panamá) e Santiago Peña (Paraguai), viajaram a Oslo para apoiar Machado. González, o diplomata de 76 anos que a substituiu nas eleições do ano passado e é considerado presidente eleito da Venezuela por diversos países, também estava presente.

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A pianista e ativista venezuelana Gabriela Montero viajou para a Noruega para se apresentar na cerimônia, afirmando que a Nobel da Paz pediu que ela tocasse a canção “Mi Querencia”, de Simón Díaz, que fala sobre a “volta para casa” — uma mensagem que ressoará com força entre os 8 milhões de venezuelanos que fugiram do país desde que Maduro assumiu o poder, em 2013. Durante a homenagem, Montero chamou a opositora venezuelana de “a mulher mais corajosa e resiliente que conheço”.

Tensões em alta

A cerimônia do Nobel coincide com um dos momentos mais incertos da turbulenta história recente da Venezuela. Desde agosto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou navios de guerra, helicópteros, submarinos e mais de 15 mil soldados à região do Caribe, onde as forças americanas conduziram mais de vinte ataques contra barcos que dizem estar ligados ao narcotráfico, matando quase 90 pessoas.

Na terça-feira, dois caças americanos sobrevoaram a menos de 80 km de Maracaibo, a segunda maior cidade da Venezuela, em uma demonstração de força.

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Embora a justificativa oficial para a mobilização militar seja a “guerra às drogas”, a maioria dos analistas e diplomatas crê que seu objetivo real é derrubar Maduro. Trump tentou – mas falhou – pressionar o ditador a deixar o poder durante seu primeiro mandato presidencial e especialistas indicam que ele vê o objetivo como “negócios inacabados”. Na terça-feira 9, ele afirmou em entrevista ao portal de notícias Politico que “os dias de Maduro estão contados” e não descartou enviar soldados para um ataque terrestre à Venezuela.

O Comitê Nobel Norueguês laureou Machado em outubro por “manter acesa a chama da democracia no meio de uma crescente escuridão” e pelo “seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela”. Na época, a venezuelana disse que a homenagem era uma “conquista de toda uma sociedade”. A decisão, porém, tornou-se alvo de críticas devido ao apoio de Machado à pressão militar do governo Donald Trump no Caribe, bem como sua defesa do uso da força para derrubar a ditadura.

“Não se pode ter paz sem liberdade, e não se pode ter liberdade sem força”, disse ela à rádio NPR um dia depois de receber o prêmio, em 10 de outubro.

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Ela também tem sido inabalável no respaldo aos bombardeios americanos contra embarcações no Mar do Caribe que o Pentágono diz estarem ligadas ao narcotráfico e já mataram ao menos 87 pessoas (muitos juristas enxergam as ações como execuções extrajudiciais que violam o direito internacional). A Casa Branca justifica suas ações na região como uma tentativa de conter o tráfico de substâncias ilícitas que matam mais de 80 mil americanos por ano com overdoses, mas a ditadura afirma que isso é cortina de fumaça para provocar uma mudança de regime. O presidente dos Estados Unidos disse na terça-feira 9 que os “dias de Maduro estão contados”, deixando em aberto a possibilidade de enviar soldados para invadir a nação sul-americana.

Após ser laureada em outubro, Machado dedicou o prêmio a Trump — que fez campanha aberta para ser ele próprio o Nobel da Paz deste ano.

O Conselho Norueguês da Paz, um grupo de 17 organizações que promove a resolução de conflitos e é independente do comitê do Nobel, afirmou em outubro que a opositora venezuelana “não se alinha com valores fundamentais” e cancelou sua tradicional homenagem anual à nova laureada.

“Um prêmio da paz deve ser concedido a pessoas que trabalham genuinamente pela paz, pelo diálogo e pela justiça. Quando o prêmio é dado a uma política que apoia a interferência militar e ações contrárias ao direito internacional, ele rompe com o próprio propósito do Prêmio Nobel da Paz”, disse em comunicado Gro Standnes, ativista e membro do Conselho Norueguês da Paz.

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