No clássico Os Homens Preferem as Loiras (1953), Marilyn Monroe canta Diamonds Are a Girl’s Best Friend, ou, em bom português, “Os diamantes são os melhores amigos de uma mulher”. A sequência, que entrou para a história do cinema dada a sensualidade arrebatadora, reforçou o poder transformador das joias, durante muito tempo restrito a quem podia pagar o preço alto que valiam. “As mulheres usavam joias finas ou não usavam joias”, resume Carol Woolton, autora do livro Costume Jewelry, volume recém-lançado pela editora Taschen que ilumina um segredo de polichinelo: se os preços sempre estiveram nas alturas, que tal apelar para bijuterias? Elas nunca saíram de cena, recatadas por enganosas, mas revolucionárias por democráticas. Em tempo: costume jewelry é a expressão em inglês usada para bijuterias.
A história do recurso estético é mais antiga do que se imagina. Remonta ao Renascimento, quando artesãos começaram a criar imitações. O movimento ganhou força durante o período Barroco, com o desenvolvimento de novas técnicas de lapidação de vidro e o uso sofisticado de pérolas falsas. Três fatores do século XX consolidaram o fenômeno: a escassez de materiais preciosos durante a Segunda Guerra Mundial; a crescente liberdade feminina na sociedade e a visão inovadora de estilistas como Coco Chanel. Ao misturar balangandãs, digamos assim, com joias finas em suas criações, a estilista francesa privilegiou o impacto visual sobre o valor das peças. Elsa Schiaparelli ampliou ainda mais a experimentação, incorporando materiais inusitados como conchas do mar e plumas exóticas.
Hollywood, é claro, desempenhou papel decisivo no movimento, e Marilyn, insista-se, representaria o apogeu. No passado, a joalheria Joseff of Hollywood ficou famosa por produzir peças especialmente adaptadas para a iluminação intensa dos estúdios e depois comercializava réplicas acessíveis em lojas de departamento. Outro fabricante, Wendy Gell, seguiu a mesma travessia. Filmes como Titanic, de 1997, e Oito Mulheres e Um Segredo, de 2018, demonstraram como acessórios bem escolhidos definem personagens inteiros. É fundamental, porém, diferenciar os conceitos envolvidos. “As joias tradicionais continuam insubstituíveis no campo do afeto, da memória e do significado emocional”, diz Biane Motta Lorensini, professora de joalheria do Istituto Europeo di Design. As réplicas são imitações tecnicamente perfeitas, olhar irônico ao que soa inalcançável. As cópias brotam sem cessar porque dão as mãos a extraordinários saltos tecnológicos. As bijuterias, por sua vez, devem ser traduzidas como liberdade criativa, e também são potencializadas por ferramentas inovadoras como o corte a laser de precisão e a impressão 3D, que permitem que pequenas marcas independentes criem peças autorais e exclusivas.
Nessa trilha, o ouro reutilizado e os diamantes cultivados em laboratório ganham espaço crescente em grandes marcas estabelecidas como Pandora e Cuff. “É cada vez mais difícil diferenciar joia de bijuteria usando conceitos clássicos tradicionais”, observa a professora Lorensini. Não por acaso, celebridades contemporâneas como as cantoras Lady Gaga e Katy Perry continuam adotando bijuterias como se fossem raridades caríssimas. As redes sociais tratam de amplificar a beleza, e já não se separa o joio do trigo. Pouco importa, porque, a rigor, as bijuterias também podem ser eternas como os diamantes, e para lá de amigas das mulheres.
Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2025, edição nº 2959
