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Falso protocolo para diabetes usa nome do presidente do CFM e coloca pacientes em risco

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, emitiu uma carta alertando para uma falsa publicação que usa seu nome para anunciar um suposto novo protocolo contra o diabetes. A divulgação, no entanto, trata-se de indicação de um suplemento sem eficácia comprovada contra a doença, o que coloca os pacientes em risco, segundo Gallo.

O texto, divulgado em um site e nas redes sociais, relata um evento onde o presidente do CFM teria apresentado os benefícios de uma nova terapia que seria capaz de normalizar os níveis de açúcar no sangue e reverter quadros graves ligado à doença, caso da retinopatia diabética. Para induzir os pacientes a acreditar na veracidade das informações, foram utilizadas fotografias de Gallo e declarações foram atribuídas a ele.

“Os fatos narrados nunca aconteceram e desconheço a existência de estudos ou evidências científicas válidas que comprovem a eficácia e segurança das substâncias citadas pelo texto divulgado”, diz, em nota. “Da mesma forma, ressalto que não houve autorização para uso de minha imagem e nem das instalações da sede do CFM”, completa.

Imagem do presidente do CFM foi usada indevidamente em site
Imagem de José Hiran Gallo, presidente do CFM, foi usada indevidamente em siteReprodução/Reprodução

A publicação cita um composto fitoterápico chamado “Inzulean” com preços que variam de R$ 198,80 (uma embalagem) a R$ 698,80 em um kit com dez frascos para tratamento de dez meses.

Em resolução publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 10 de fevereiro deste ano, a Anvisa proibiu a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso do suplemento alimentar em cápsulas, que é produzido por empresa desconhecida. Pelas regras estabelecidas pela agência em 2018, os suplementos alimentares não podem alegar benefícios para a saúde como os obtidos por medicamentos, pois são produtos de naturezas diferentes.

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O texto é repleto de imagens produzidas com inteligência artificial e cita profissionais reais, como o presidente do CFM e o ex-diretor presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Antônio Barra Torres, mas traz médicos fictícios elogiando os efeitos da suposta medicação e atacando os tratamentos vigentes para a doença, que são aprovados no Brasil e já comprovaram segurança e eficácia em ensaios clínicos.

“Alerto a população sobre a importância de apenas usar medicação aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), protegendo-se de golpes que podem agravar quadros de saúde e gerar prejuízos financeiros”, diz o presidente do CFM.

Em nota enviada a VEJA, a Inzulean informou que foi identificada a participação de um de seus afiliados na realização de “uso indevido de táticas de publicidade não autorizadas, violando expressamente as normas internas e o código de conduta de divulgação da marca” e negou a participação e o incentivo à prática.

“Assim que o caso foi detectado, todas as ações publicitárias realizadas por este afiliado foram imediatamente removidas e sua afiliação foi permanentemente suspensa. O responsável será devidamente notificado e responsabilizado pelos atos praticados, conforme previsto nos termos do programa de afiliados e na legislação vigente”, diz o comunicado.

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A reportagem questionou o motivo de o produto ainda estar sendo comercializado apesar da proibição e a empresa informou que o suplemento alimentar “não possui distribuição ativa neste momento, e que todo o estoque junto ao fornecedor foi oficialmente zerado”.

A plataforma que vendia o suplemento foi retirada do ar.

Página de venda do suplemento ainda estava no ar nesta segunda-feira
Página de venda do suplemento ainda estava no ar nesta segunda-feiraInzulean/Reprodução

CFM reforça importância de orientações médicas

Ainda em nota, o Gallo informou que a Coordenação Jurídica do CFM já denunciou a publicação às autoridades competentes e acompanha o desdobramento das apurações “para que os sites e perfis de redes sociais que reproduzirem esses conteúdos sejam autuados e obrigados a retirá-los de circulação”.

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“É inadmissível a publicação de fake news que distorcem a realidade com intenção de ludibriar a população com informações inverídicas, sem lastro e evidências científicas, com o intuito de vender produtos e serviços. Trata-se de uma ação criminosa que não pode ficar impune”, afirmou o presidente do CFM.

Ele reforça que os pacientes devem buscar sempre orientação médica e não praticar a automedicação, medida que pode trazer riscos à saúde.

“(Os médicos) são os únicos profissionais capacitados e habilitados a fazer o diagnóstico de doenças e prescrever tratamentos, seguindo uma conduta terapêutica com base científica, com eficácia, segurança e ética”, afirma.

Os cuidados com o diabetes

Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), o Brasil ocupa a sexta posição no ranking mundial de números de casos da doença com 16,6 milhões de registros na população entre 20 e 79 anos. Ainda de acordo com a edição de 2025 do atlas global da doença, 589 milhões de pessoas vivem com a condição no mundo.

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No Brasil, 111 000 mortes foram causadas pela doença no ano passado. Em todo o globo, foram 3,4 milhões de óbitos.

O tratamento medicamentoso deve ser iniciado após prescrição médica com o fármaco adequado e em dosagem estabelecida de acordo com o caso do paciente.

“Essa propagação de fake news relacionada à saúde com tentativa de dar algum verniz de seriedade e respaldo científico a protocolos inexistentes é uma das consequências mais nefastas das redes sociais. O que a nossa sociedade recomenda é que todo o paciente com diagnóstico de diabetes seja acompanhado por um médico capacitado”, explica Fabio Moura, endocrinologista e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Moura alerta que o diabetes, quando não tratado corretamente, pode comprometer a saúde dos pacientes e levar a sérias sequelas. “Diabetes é uma doença potencialmente grave, é a principal causa de cegueira no mundo ocidental, de amputação não traumática e da necessidade de fazer hemodiálise. É uma doença que, se for mal conduzida, pode ter inúmeras repercussões catastróficas. Por outro lado, se bem conduzida com o controle da glicose, da pressão e de todos os fatores de risco, o paciente vai ter uma vida normal.”

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