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‘Expressar o luto na arte tem me salvado’, diz sobrinha de Jorge Fernando

Aos 42 anos, Maria Carol Rebello vive uma fase especial na carreira, marcada por recomeços após um período de luto com as perdas do tio, o diretor de televisão Jorge Fernando (1955-2019), da avó, a atriz Hilda Rebello (1925-2019), e do irmão, João Rebello (1979-2024), ex-ator mirim da Globo que foi assassinado a tiros em outubro do ano passado. Nove anos depois da última atuação em novelas, ela volta à televisão como Olga em Êta Mundo Melhor!, continuação de Êta Mundo Bom! (2016) – último folhetim dirigido por Jorge. Paralelamente, celebra outro marco: o lançamento de Fôlego – Até Depois do Fim, documentário criado em parceria com Candé Salles e que revisita parte da trajetória da família de talentos, com estreia marcada para outubro, no Festival do Rio. À coluna GENTE, Maria Carol fala sobre os bastidores do filme, como lida com o rótulo de “nepo baby” e sobre a superação do luto. “Fôlego é transformar o desespero da dor em força para criar”.

Atriz Maria Carol Rebello
Atriz Maria Carol RebelloAndre Heck/Divulgação

Como nasceu a ideia de fazer um documentário sobre sua família e por que esse é o momento certo para lançá-lo? Eu e meu irmão tínhamos vontade de fazer um filme desde 2019, quando perdemos meu tio e minha avó. O Candé Salles, diretor do meu doc e meu amigo desde a adolescência, também conversava sobre isso com a gente. Depois da morte do meu irmão, em outubro do ano passado, comecei a escrever mais. O Candé me ligou e disse: “Vamos fazer esse filme agora. Você já tem o roteiro”. Corremos para produzir e poder estar no Festival do Rio 2025 em outubro, quando fará um ano da morte do João.

O filme reúne nomes como Xuxa, Fernanda Montenegro, Claudia Raia e Ney Matogrosso. Como foi trazer essas personalidades para o projeto? Fôlego – até depois do fim é um documentário confessional onde conto minhas memórias de vida, crescendo em uma família que sempre trabalhou e fez arte. Todos esses artistas fazem parte dessas memórias, estavam presentes e me ajudam a contar essas histórias.

Produzir um documentário sobre a própria família é delicado. Como equilibrar afeto e objetividade? Sim, é delicado e mágico. São muitas memórias e lembranças. Fui escrevendo tudo com emoção, e, por isso, precisei de um diretor para amarrar e concretizar isso. Só poderia ser o Candé a dirigir meu filme. Além do talento e do olhar inigualável para contar histórias, temos um laço emocional de irmãos e muitas coisas vividas juntos.

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Que ensinamentos do seu tio você leva para a vida e para o trabalho? Além da educação maravilhosa que tive com ele, tem o legado artístico – na minha casa respirávamos arte o tempo todo. Também fomos criados com verdade e liberdade para ser o que você decidir ser. Ele me ensinou a tratar todos de igual para igual e ter humildade de ouvir e aprender sempre.

Como você enxerga hoje o legado artístico deixado por ele? O Jorge tem uma marca impressa na teledramaturgia brasileira. Ele criou uma linguagem própria de fazer novelas de grandes sucessos. Tenho muito orgulho disso. Na música, dirigiu grandes artistas, como Elba Ramalho e Ney Matogrosso. Ninguém faz shows com a grandeza que se fazia nos anos 1980 e 1990. No teatro, fez por 17 anos o sucesso BooM onde ele mostrava como era um showman, e hoje vejo diversos comediantes e atores de stand up comedy as piadas que ele fazia no final dos anos 1990.

Além da produção, você está em ‘Êta Mundo Melhor!’: como é equilibrar a atuação com o trabalho nos bastidores? Logo depois do meu último trabalho como atriz na novela Verão 90 veio a pandemia. Depois voltei produzindo e dirigindo o musical infantil O Menino Do Olho Azul, e me apaixonei pela direção. Achei que não iria mais atuar, até que veio o convite para viver novamente a Olga em Êta Mundo Melhor!. Eu me reconectei com a atuação, mas sou operária da arte – produzo, dirijo, atuo e também sei montar a luz de um espetáculo. Aprendi fazendo.

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Você retorna às novelas em um momento marcado por perdas muito significativas. Como esse processo de luto impactou sua relação com a arte e o desejo de voltar a atuar? Minha família, o momento em que nasci e como fui criada impactam diretamente na minha relação com a arte, e conto isso no documentário. Continuar fazendo e poder expressar o luto e a saudade na arte tem me salvado.

Já foi chamada de nepo baby? Como lida com esse rótulo? Não preciso ser chamada para ter consciência do que sou, dos privilégios que tenho e meus deveres com isso. Mas, além disso, estudei, continuo estudando, aprendendo e me preparando para exercer minha profissão. Sou artista, não sou uma “famosa alguém”. Aprendi a ser operária da arte e minha famíla sempre produziu junto, como uma trupe de circo.

O sobrenome ajudou a abrir portas, mas também trouxe cobranças extras? O legado da família e o sobrenome me trouxeram experiências e aprendizados. Isso me abriu portas em vários sentidos, principalmente nas oportunidades de estudar, mas nunca senti cobrança extra, apenas a vontade de fazer bem para dar orgulho para eles. As pessoas comparam, mas isso é normal. Vão sempre arranjar algo para criticar ou comparar, faz parte do jogo.

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Já enfrentou resistência por ser jovem e mulher produzindo um projeto desse porte? Cresci vendo muitas mudanças acontecerem nesse sentido. Vendo muitas mulheres assumindo cargos de liderança e direção. Ainda falta muito, mas estamos no caminho de não precisar nem mais ter esse tipo de dúvida ou questionamentos.

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