O ex-primeiro-ministro da Malásia Najib Razak, de 72 anos, foi condenado nesta sexta-feira, 26, a quinze anos de prisão por abuso de poder e lavagem de dinheiro, em mais um capítulo do escândalo bilionário envolvendo o fundo soberano 1Malaysia Development Berhad (1MDB). A sentença marca a segunda grande condenação do político no caso e reforça as consequências de uma crise de corrupção que abalou o país e levou ao fim de mais de seis décadas de hegemonia de seu grupo no poder.
O veredicto foi proferido em Putrajaya, capital administrativa da Malásia, após sete anos de tramitação judicial e o depoimento de 76 testemunhas. O juiz considerou Najib culpado de quatro acusações de abuso de poder e 21 de lavagem de dinheiro, relacionadas ao desvio de cerca de 2,3 bilhões de ringgits (aproximadamente 570 milhões de dólares) do fundo estatal para contas pessoais do ex-líder.
Pela legislação malaia, as penas — quatro sentenças de quinze anos por abuso de poder e outras de cinco anos por cada crime de lavagem de dinheiro — serão cumpridas de forma simultânea. Najib já está preso desde 2022, quando começou a cumprir uma pena de seis anos por outro caso de peculato ligado ao 1MDB.
No início da semana, a Justiça rejeitou um pedido da defesa para que o ex-premiê passasse o restante da pena em prisão domiciliar. Ainda assim, Najib mantém uma base fiel de apoiadores, que se reuniu em frente ao tribunal em Putrajaya para protestar contra o que classificam como perseguição política.
O escândalo do 1MDB veio à tona há cerca de uma década e ganhou repercussão internacional ao envolver bancos como o Goldman Sachs e figuras do entretenimento em Hollywood. Investigadores estimam que cerca de 4,5 bilhões de dólares tenham sido desviados do fundo soberano para bolsos privados, incluindo o do próprio Najib.
A defesa sustenta que o ex-primeiro-ministro foi enganado por assessores, especialmente pelo financista Jho Low, apontado como peça-chave do esquema e atualmente foragido. O argumento, porém, foi rejeitado repetidamente pelos tribunais do país. Em 2020, Najib já havia sido condenado por abuso de poder, lavagem de dinheiro e quebra de confiança em outro processo envolvendo recursos da SRC International, antiga subsidiária do 1MDB — pena que acabou reduzida pela metade no ano passado.
O caso mais recente envolve valores ainda maiores e transferências feitas em 2013 para a conta pessoal de Najib. Ele alegou que o dinheiro seria uma doação do então rei da Arábia Saudita, Abdullah, versão descartada pela Justiça.
Em 2018, ele levou à derrota histórica da coalizão Barisan Nasional, liderada por Najib, que governava a Malásia desde a independência, em 1957. Agora, as condenações expõem novas fissuras na coalizão governista atual, que inclui o partido de Najib, a Organização Nacional dos Malaios Unidos (UMNO).
O primeiro-ministro Anwar Ibrahim afirmou que as decisões judiciais devem ser respeitadas. Para críticos, o caso envia um recado claro à elite política. “A mensagem é que mesmo o líder máximo do país pode ser responsabilizado por corrupção”, afirmou o ex-parlamentar Tony Pua. Já ativistas anticorrupção alertam que, apesar das condenações, o país ainda falha em fortalecer instituições capazes de impedir novos escândalos de grande escala.