Um grupo formado por 600 militares israelenses aposentados escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedindo para que ele pressione Israel a encerrar imediatamente o conflito em Gaza. A declaração da organização Comandantes para a Segurança de Israel (CIS) foi feita nesta segunda-feira, 4. O movimento é composto por ex-membros do alto escalão da segurança israelense, como Tamir Pard, ex-chefe do Mossad, e Ami Ayalon, ex-chefe do Shin Bet, além do ex-primeiro-ministro Ehud Barak e o ex-ministro da Defesa Moshe Yaalon.
“Sua credibilidade com a grande maioria dos israelenses aumenta sua capacidade de orientar o primeiro-ministro Netanyahu e seu governo na direção certa: acabar com a guerra, devolver os reféns, acabar com o sofrimento”, diz a carta endereçada a Trump.
A declaração acontece em meio a relatos de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, irá expandir as operações militares em Gaza, uma vez que impasses em negociações indiretas com o grupo militante palestino Hamas continuam.
No ano passado, o grupo já havia pedido ao governo que se concentrasse em garantir o retorno dos reféns. A nova manifestação ocorre após vídeos de dois reféns israelenses aparentemente desnutridos causarem indignação no país. Os registros foram divulgados por militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, e condenados por Israel e por líderes ocidentais, como uma forma de mostrar que bloqueios israelenses à entrada de suprimentos afeta também os reféns.
Após a divulgação, Netanyahu conversou com as famílias dos reféns, assegurando que os esforços para a devolução “continuarão constantes e implacáveis”. No entanto, a mídia local divulgou a afirmação de uma autoridade israelense de que a libertação dos reféns aconteceria por meio da “derrota militar do Hamas”.
A ideia foi condenada pelo principal grupo de apoio às famílias dos reféns, que declarou: “Netanyahu está levando Israel e os reféns à ruína”.
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Uma nova escalada no conflito é mal vista por aliados israelenses, que pressionam por um cessar-fogo imediado. A insatisfação com o conflito foi ampliada devido aos relatos de fome generalizada na região, incluindo imagens de crianças desnutridas.
A Guerra em Gaza teve início no dia 7 de outubro de 2023, quando um ataque do Hamas no sul de Israel terminou com 1.200 pessoas mortas e 251 reféns sequestrados. A campanha israelense que seguiu já deixou mais de 60 mil pessoas mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas.
As fortes restrições a insumos básicos impostas por Israel também vêm causando fome generalizada na região. Segundo um relatório avalizado pela ONU, 93% da população está em estado de vulnerabilidade alimentar e 244 000, em situação “catastrófica”. Só em 48 horas, 33 pessoas sucumbiram à desnutrição, doze crianças. O fornecimento de mantimentos ali foi transferido a uma empresa americana apoiada por Israel e Estados Unidos — a GHF, criticada pela inexperiência e pelo viés militarizado da missão que encabeça.
Na semana passada, duas importantes ONGs israelenses, a B’Tselem e a Médicos pelos Direitos Humanos, divulgaram relatórios classificando as ações do governo como “política genocida” em Gaza. Foi a primeira vez que grupos israelenses usaram esse termo publicamente, intensificando a pressão interna.
Também na semana passada, a Corrente Reformista Judaica dos Estados Unidos, a maior do país, culpou o governo israelense pela propagação da fome:
“Bloquear comida, água, remédios e eletricidade — especialmente para crianças — é indefensável”, diz um trecho do posicionamento oficial.
A entidade criticou a tentativa de minimizar o sofrimento humanitário com disputas semânticas: “Ninguém deveria gastar seu tempo debatendo definições técnicas entre fome e subnutrição massiva. A situação é grave. E é letal.”
Até o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, em entrevista ao The Guardian no início do mês, comparou o plano de construir uma “cidade humanitária” em Rafah a um campo de concentração, dizendo que forçar palestinos a viver ali equivaleria a limpeza étnica.
Ainda assim, o governo e organizações de direita israelenses continuam negando que haja fome em Gaza provocada por suas ações. Isso apesar das evidências divulgadas por agências da ONU, como o sistema IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar), e até da declaração recente de Donald Trump, que reconheceu a existência de “fome real” e pediu que Israel permita a entrada total de alimentos no território.