O Supremo Tribunal da Espanha decretou nesta segunda-feira, 30, a prisão preventiva e sem fiança de Santos Cerdán, ex-secretário de organização do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e aliado direto do primeiro-ministro do país, Pedro Sánchez. A detenção, motivada por suspeitas de corrupção, tráfico de influência e participação em organização criminosa, mergulha o governo espanhol em uma crise política sem precedentes.
A prisão de Cerdán ocorre em meio a uma série de investigações que cercam pessoas próximas ao premiê — incluindo sua esposa, Begoña Gómez, e o irmão, David Sánchez — e alimenta a pressão da oposição conservadora por eleições antecipadas. Mesmo após pedir desculpas aos eleitores e exigir o afastamento imediato de Cerdán do partido, Sánchez resiste à dissolução do Parlamento.
Acusações
Segundo o juiz Leopoldo Puente, que conduz o caso, o ex-dirigente socialista teria negociado propinas em contratos de obras públicas em articulação com o ex-ministro dos Transportes José Luis Ábalos e seu então assessor, Koldo García, ambos também investigados. A decisão de prendê-lo sem direito a fiança se baseia em “risco concreto de destruição de provas e coordenação com outros envolvidos”, segundo o despacho judicial.
Cerdán, que renunciou a seus cargos partidário e parlamentar logo após as primeiras denúncias, nega todas as acusações. Em depoimento, afirmou que não reconhece a própria voz nos áudios apresentados como provas e que não conhece pessoalmente Víctor de Aldama, empresário apontado como peça-chave no esquema de propinas.
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Sánchez acuado
A prisão do “número três” do PSOE desestabiliza o discurso ético de Pedro Sánchez, que chegou ao poder prometendo romper com a cultura de corrupção herdada do rival Partido Popular (PP), de centro-direita. Agora, vê sua própria legenda — e família — envolvida em um escândalo de grande alcance.
“O homem que Sánchez escolheu como seu braço direito está agora atrás das grades. Se isso não é motivo para renunciar e convocar eleições, então estamos diante de um governo totalmente desconectado da realidade”, disparou o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.
Sánchez, por sua vez, reafirmou confiança na Justiça espanhola e afirmou ter atuado “com firmeza” após a decisão do Supremo.