O diabetes é uma condição crônica e progressiva que está presente na vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Atualmente, estima-se que cerca de 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos vivam com essa condição – número que pode ultrapassar 853 milhões até 2050, sendo o diabetes tipo 2 (DM2) responsável por mais de 90% dos casos. No Brasil, segundo a Federação Internacional de Diabetes, aproximadamente 16,6 milhões de pessoas têm diabetes, colocando o país entre os seis com maior número de casos no mundo.
Diante desse cenário, fica claro que não basta apenas diagnosticar precocemente o diabetes. É fundamental repensar o seu manejo, sobretudo pela sua natureza progressiva.
Por muito tempo, o tratamento do diabetes tipo 2 seguiu um modelo de intensificação gradual: inicialmente, mudanças no estilo de vida e introdução de antidiabético, conforme a evolução do quadro clínico e a necessidade de controle da glicemia.
Entretanto, nos últimos anos, essa estratégia tem sido questionada. Diretrizes internacionais – como as da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Americana de Diabetes (ADA) têm considerado a introdução de combinações de medicamentos logo no início do tratamento da doença.
A lógica dessa mudança é simples: essa abordagem pode ajudar no controle da glicemia no longo prazo e reduzir o risco de complicações associadas ao diabetes tipo 2. Um estudo mostrou que pacientes que iniciaram o tratamento com uma combinação de medicamentos apresentaram maior durabilidade do controle glicêmico, comparados aos que começaram com apenas um medicamento, adiando significativamente a perda do controle da glicemia ao longo do tempo.
Além disso, medicamentos que atuam por mecanismos diferentes podem trazer efeitos complementares: por exemplo um age na resistência à insulina, outro pode influenciar na secreção desse hormônio ou retardar a absorção da glicose. Outro benefício da combinação inicial é a comodidade, especialmente quando os medicamentos vêm em dose fixa combinada – ou seja, dois princípios ativos em um único comprimido. Isso pode facilitar o uso correto do tratamento e melhorar a adesão do paciente, aspecto importante no caso de condições crônicas como diabetes tipo 2.
Além disso, diferentes classes de medicamentos podem trazer benefícios adicionais, como controle do peso, menor risco de hipoglicemia e benefícios cardiovasculares e renais, dependendo da classe farmacológica e do perfil do paciente.
Um desafio comum no tratamento do diabetes é a chamada “inércia clínica” – a demora em ajustar ou intensificar o tratamento mesmo quando os resultados não são satisfatórios. Com uma abordagem mais proativa e personalizada, é possível reduzir essa barreira.
Com os avanços científicos e maior oferta de opções terapêuticas, o tratamento do diabetes tipo 2 pode – e deve – ser mais assertivo, combinando eficácia, segurança e adesão. Em meio ao aumento da prevalência dessa condição, repensar o modelo tradicional de cuidado é fundamental para ajudar a reduzir seu impacto na vida dos pacientes e no sistema de saúde.
*João Eduardo Nunes Salles é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) 2024-2025, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes para 2026-2027 e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo