Líderes europeus disseram estar prontos para comandar uma força multinacional na Ucrânia como parte de um pacote de garantias de segurança apoiado pelos Estados Unidos, em um movimento que pode marcar o maior avanço nas negociações de paz desde o início da invasão russa, em 2022. Em encontro nesta segunda-feira, 15, dirigentes do Reino Unido, França, Alemanha e outras nações europeias divulgaram um comunicado conjunto afirmando que poderiam liderar uma força multinacional para ajudar a regenerar as Forças Armadas de Kiev após um eventual cessar-fogo.
O pacote, apresentado em Berlim ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, propõe garantias de segurança que se aproximam das oferecidas aos países membros da Otan — embora sem a adesão formal à aliança atlântica. Entre as medidas discutidas estão a manutenção de um Exército ucraniano robusto, um mecanismo liderado pelos Estados Unidos para monitoramento e verificação do cessar-fogo e compromissos legais dos países envolvidos para reagir a futuras agressões.
Pelos termos em debate, Kiev manteria um Exército permanente de cerca de 800 mil soldados, enquanto Washington ficaria à frente de um sistema internacional de alerta antecipado em caso de nova ofensiva russa. Países europeus também assumiriam compromissos jurídicos de defesa e apoiariam a entrada da Ucrânia na União Europeia.
Autoridades americanas envolvidas nas negociações afirmam acreditar que Moscou poderia aceitar essas garantias, o que representaria uma flexibilização relevante das exigências do Kremlin, historicamente contrário à presença de tropas ocidentais na Ucrânia. Os Estados Unidos, no entanto, reiteraram que não enviarão soldados ao país como parte do acordo.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que as conversas colocaram Rússia e Ucrânia “mais próximas de um processo real de paz” do que em qualquer outro momento desde o início da guerra. Zelensky classificou os encontros como produtivos, embora tenha reconhecido que as negociações seguem difíceis.
Persistem, porém, impasses relevantes. Estados Unidos e aliados ainda buscam uma fórmula para o futuro dos territórios ocupados pela Rússia, incluindo a possibilidade de transformá-los em zonas econômicas especiais. Também há desacordo sobre o destino da usina nuclear de Zaporizhzhia, atualmente sob controle russo.
Zelensky sinalizou disposição para congelar a atual linha de frente e até abrir mão da tentativa de ingressar na Otan, desde que receba garantias de segurança juridicamente vinculantes. O Kremlin, por sua vez, voltou a afirmar que a ampliação da aliança atlântica é um ponto sensível, mas disse aguardar um relato oficial dos Estados Unidos sobre as conversas em Berlim.
Enquanto isso, a União Europeia tenta avançar em um acordo para financiar a Ucrânia nos próximos anos, inclusive com o uso de ativos russos congelados — tema que deve dominar a agenda de uma reunião de líderes marcada para os próximos dias.
