A Europa está pagando uma conta cada vez mais pesada pelos impactos da crise climática.
Segundo relatório divulgado pela Agência Europeia do Ambiente (EEA), os prejuízos anuais provocados por eventos extremos, como ondas de calor prolongadas, enchentes devastadoras e incêndios florestais, mais do que dobraram nesta década em relação ao período anterior.
Entre 2020 e 2023, as perdas econômicas chegaram a € 44,5 bilhões por ano, duas vezes e meia acima da média registrada entre 2010 e 2019.
O levantamento revela ainda a vulnerabilidade estrutural da economia europeia. Quase três quartos das empresas da zona do euro dependem fortemente de ecossistemas naturais, seja para produção de matérias-primas, abastecimento de água ou regulação climática.
A fragilidade é tamanha que 15% dos ativos industriais do continente estão localizados em áreas de risco de inundação.
Além disso, 75% dos empréstimos bancários são destinados a companhias que exploram diretamente recursos naturais, o que amplia os riscos para o sistema financeiro diante da degradação ambiental.
A diretora-executiva da EEA, Leena Ylä-Mononen, alertou que a combinação de degradação ambiental, perda de biodiversidade e mudanças climáticas aceleradas ameaça não apenas a natureza, mas também a competitividade, a prosperidade de longo prazo, a segurança e a qualidade de vida na região.
O quadro é agravado pela perda de 30% da capacidade dos sumidouros de carbono, florestas e turfeiras de absorver emissões nos últimos dez anos.
O relatório ainda chama a atenção para o agravamento da crise hídrica. Cerca de um terço da população europeia vive hoje sob estresse hídrico, quando a demanda de água supera a disponibilidade.
A agricultura foi apontada como a principal responsável pela pressão sobre aquíferos e corpos d’água superficiais, num contexto em que secas prolongadas e chuvas concentradas já se tornaram parte da rotina do continente mais rápido a aquecer no planeta.
Se a Europa sente os efeitos do aquecimento global em cifras cada vez mais pesadas, o Brasil não está em situação diferente.
Estudo recente da UNESP estimou que, nos últimos 30 anos, os desastres climáticos custaram ao país R$ 502,4 bilhões.
Só o Rio Grande do Sul respondeu por R$ 100,7 bilhões desse total entre 1993 e 2022.
O número de eventos extremos também não para de crescer: de 9.772 ocorrências registradas entre 1993 e 2002, saltou para 30.602 no período 2013–2022, um aumento de mais de 200%.
O episódio mais dramático recente foi a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul entre abril e junho de 2024, considerada uma das maiores tragédias climáticas da história brasileira.
Os prejuízos somaram cerca de R$ 87 bilhões, atingindo mais de dois milhões de pessoas.
O governo federal anunciou R$ 111,6 bilhões em recursos para reconstrução, valor próximo de todo o impacto econômico da tragédia.
Dados do Observatório Nacional de Desastres Naturais mostram que, entre 1995 e 2023, desastres relacionados a chuvas intensas custaram R$ 146,7 bilhões ao Brasil.
Desse montante, quase R$ 89 bilhões correspondem apenas às enchentes gaúchas de 2024, que superaram sozinhas décadas de prejuízos acumulados em outros estados.
O recado é claro: tanto na Europa quanto no Brasil, o impacto financeiro das mudanças climáticas deixou de ser uma previsão distante e se tornou um fator de risco concreto para economias, empresas e comunidades.
A degradação ambiental e a falta de resiliência hídrica já não se traduzem apenas em perda de biodiversidade, mas em colapso de cadeias produtivas, aumento de custos sociais e necessidade urgente de investimentos bilionários em reconstrução.
O desafio agora é político: transformar esses alertas em políticas públicas efetivas e ações privadas consistentes, capazes de reduzir vulnerabilidades e preparar sociedades para um clima cada vez mais instável.