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EUA venderam rifles de precisão para o BOPE, central na megaoperação no Rio, diz agência

O governo dos Estados Unidos vendeu rifles de precisão para o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), unidade especial da Polícia Militar do Rio de Janeiro que participou da megaoperação que deixou 121 mortos na semana passada. De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira, 7, pela agência de notícias Reuters, o negócio foi fechado no ano passado e ignorou as preocupações da então embaixadora americana em Brasília, Elizabeth Frawley Bagley, e de outros diplomatas, que temiam que as armas pudessem ser usadas em execuções extrajudiciais.

Segundo autoridades americanas e documentos vistos pela Reuters, o BOPE comprou em 2023 vinte rifles produzidos pela Daniel Defense LLC, com sede na Geórgia, por US$ 150 mil (mais de R$ 800 mil, na cotação atual), um negócio que não foi anunciado publicamente. As armas só chegaram ao Rio em 2024, em meio a debates dentro do Departamento de Estado sobre a pertinência da venda.

A unidade policial também tentou adquirir silenciadores produzidos pela Griffin Armament, com sede em Wisconsin, mas a compra foi inicialmente bloqueada pelo governo dos Estados Unidos. Não está claro se os equipamentos foram liberados depois.

Resistência de diplomatas

Pela lei americana, exportações de armas geralmente precisam ser aprovadas pelo governo. Embora o Departamento de Comércio frequentemente emita a licença final, o Departamento de Estado desempenha um papel fundamental no processo.

A então embaixadora Bagley opôs-se ao acordo, assim como alguns diplomatas que trabalham com direitos humanos e questões de segurança pública, segundo um memorando do Departamento de Estado, datado de janeiro de 2024, visto pela Reuters. O documento descreveu o BOPE como “uma das unidades policiais mais notórias do Brasil em relação a assassinatos de civis”. A polícia do Rio de Janeiro foi responsável por 703 homicídios no ano passado, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, enquanto 55 agentes morreram.

O memorando do Departamento de Estado de janeiro de 2024 que fazia recomendação contrária à venda de armas ao BOPE observou que a unidade estava implicada no assassinato de 23 pessoas durante um único incidente em 2022. O chamado massacre de Vila Cruzeiro foi o fator decisivo para alguns diplomatas condenarem o negócio, segundo a Reuters, embora o BOPE já tivesse recebido armas dos Estados Unidos no passado.

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A Reuters não conseguiu apurar se os rifles fabricados nos Estados Unidos foram usados ​​pelo BOPE na operação da semana passada.

Autoridade trumpista e relação com Bolsonaro

Antes da compra de 2023, o BOPE já havia importado com sucesso pelo menos 800 rifles fabricados nos Estados Unidos, mostram documentos do Departamento de Estado americano. Mas uma série de operações letais envolvendo a unidade nos últimos anos mudou os cálculos de alguns diplomatas, de acordo com a Reuters.

A agência de notícias reportou que, entre os mais fervorosos defensores da transação, estava Ricardo Pita, então o principal assessor para assuntos da América Latina na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, que como hoje era controlada pelos republicanos. Hoje, Pita é um conselheiro sênior para Assuntos do Hemisfério Ocidental no Departamento de Estado de Donald Trump. Nessa função, a autoridade, que nasceu na Venezuela, se reuniu em maio com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agora preso, aliado de Trump que faz defesa contumaz do trabalho do BOPE.

Em meados de 2024, segundo a Reuters, Pita visitou uma sede do BOPE no Rio com uma delegação de funcionários do Congresso. A visita irritou alguns diplomatas americanos, já que o Departamento de Estado frequentemente denuncia a polícia carioca em documentos públicos por supostos abusos de direitos humanos.

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Mais tarde no mesmo ano, Pita pressionou diplomatas americanos para a aprovação da venda dos silenciadores que acompanhavam os rifles, reportou a agência de notícias. Autoridades ouvidas pela Reuters disseram ter ficado surpresas com sua persistência nesse tema específico dado o enorme escopo de seu portfólio, que em teoria se estendia da fronteira EUA-México até a Patagônia.

Após ingressar no Departamento de Estado, Pita começou a questionar funcionários sobre quais diplomatas haviam se oposto à transação, disse a reportagem.

É comum que transações como essa sejam aprovadas pelos Estados Unidos, em parte porque departamentos de polícia estrangeiros costumam se voltar para outros países para obter armas quando são rejeitados. O BOPE também é a unidade responsável pela proteção do consulado americano no Rio caso seja atacado.

Aprovação do BOPE e megaoperação

Apesar das denúncias, o BOPE tem apoio amplo entre os cariocas, fartos de violência, incluindo a atuação de gangues armadas até os dentes. Além disso, uma pesquisa AtlasIntel publicada nesta sexta-feira mostrou que 55% dos brasileiros apoiam a megaoperação da última semana, parcela que sobe para 62% entre os moradores do estado do Rio.

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Especialistas independentes, enquanto isso, criticam com frequência o histórico de direitos humanos do BOPE. A polícia do Rio também é alvo constante de críticas nos relatórios anuais sobre direitos humanos do Departamento de Estado americano sobre o Brasil.

“Há um padrão persistente de impunidade nas operações policiais (no Rio), que frequentemente resultavam em um número significativo de mortes, acusações de uso excessivo da força, execuções extrajudiciais e negação de atendimento médico a suspeitos feridos”, disse o relatório de 2023.

Também há preocupações entre autoridades americanas de que armas destinadas à polícia brasileira sejam, ao invés disso, ser usadas para fins criminosos. No ano passado, o estado do Rio abriu uma investigação contra alguns oficiais do BOPE por vínculos com milícias.

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