Uma série de ex-funcionários federais que pediram demissão ou perderam seus cargos após a posse do presidente Donald Trump entraram para a corrida pelo Congresso dos Estados Unidos, filiados ao rival Partido Democrata. Segundo informações da agência de notícias Reuters divulgadas nesta quinta-feira, 18, muitos deles deixaram seus cargos após o republicano iniciar um processo de desmanche das agências federais.
Os novos candidatos olham para as midterms de 2026, eleições legislativas e locais plantadas no meio do mandato presidencial, que renovam centenas de assentos na Câmara e no Senado, mas conter a agenda trumpista. Apesar do Partido Republicano ter maioria no Congresso atualmente, os democratas estão a apenas três cadeiras de mudar esse quadro, o que permitiria barrar uma série de medidas do governo apoiadas pelos líderes republicanos de ambas as casas.
Boa parte das candidaturas é consequência da demissão em massa promovida pelo chamado DOGE, o “departamento de eficiência governamental”, uma força-tarefa outrora controlada pelo bilionário Elon Musk para enxugar o governo. O DOGE reduziu o efetivo de 2,4 milhões de funcionários para 317 mil. Outros, por sua vez, optaram por renunciar por indignação com as políticas de Trump.
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Uma destas pessoas é o antigo promotor do Departamento de Justiça Ryan Crosswell, 45 anos. Ele renunciou após o departamento enterrar as acusações de corrupção contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, após um acordo com o governo Trump para garantir a cooperação de Adams junto às políticas migratórias do presidente. De acordo com a Reuters, Croswell entendeu “que não podia ficar parado enquanto Trump atropelava o governo” e decidiu concorrer a uma cadeira no Congresso.
Situação semelhante ocorreu com a cientista climática Megan O’Rourke. Outrora vinculada ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, onde supervisionava bolsas para projetos voltados à produção de alimentos sustentáveis, ela renunciou após Trump cortar programas de financiamento voltados às mudanças climáticas. Meses após deixar o cargo, O’Rourke decidiu disputar como democrata pelo 7º distrito de Nova Jersey.
John Sullivan, por sua vez, foi agente do FBI por quase 17 anos, antes de deixar o posto em protesto contra uma suposta instrumentalização da agência pelo republicano. “Eu só sabia que não podia ficar lá e fazer parte disso”, disse o homem de 41 anos, que fez parte da equipe responsável por identificar os participantes da invasão ao Capitólio em 201. Segundo ele, a percepção de que Trump estava transformando a agência em uma entidade política veio logo nos primeiros momentos do mandato, quando o republicano anistiou mais de 1.500 envolvidos no ato.
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Outros nomes incluem o ex-procurador assistente Zach Dembo, que deixou a posição por temer ser forçado a violar a lei, e o ex-funcionário da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos, Bayly Winder. Grande parte dos candidatos oriundos do funcionalismo público trabalhou sob a administração Trump durante o primeiro mandato, entre 2016 e 2020. Segundo eles, a grande diferença é que o presidente não demonstra nenhuma hesitação em romper com as normas políticas tradicionais.
Segundo a Reuters, nenhum dos cinco é uma aposta certa para o Congresso. O’Rourke, Crosswell e Sullivan têm que enfrentar rivais dentro do próprio Partido Democrata antes de disputar uma vaga contra republicanos — mas pelo menos estão em distritos decisivos, contra adversários vulneráveis. Winder e Dembo, por outro lado, concorrem por distritos de tendência conservadora e que se mostraram difíceis aos democratas.
Apesar disso, eles aceitam sua posição de outsiders e até as utilizam em sua campanha. “Nunca estive na política antes, mas já atuei no serviço público”, disse Winder durante comício recente. Já Crosswell tem levado sua carta de renúncia para eventos, onde recebe aplausos e gritos de dezenas de ativistas democratas.