Os Estados Unidos não consideram que o Hamas violou os termos do acordo de cessar-fogo ao demorar para devolver os corpos dos reféns mortos em cativeiro em Gaza, informou a emissora americana CNN nesta quinta-feira, 16, com base em dois conselheiros sêniores dos EUA. Na véspera, os combatentes anunciaram que “cumpriram o que foi acordado e entregaram todos os reféns vivos em sua posse e os cadáveres aos quais tiveram acesso”. Até o momento, o grupo radical disse ter entregado 10 dos 28 corpos calculados por Israel.
“Muita gente tem dito que o Hamas violou o acordo porque nem todos os corpos foram devolvidos. Eu acredito que o entendimento que tivemos com eles foi que retiraríamos todos os reféns vivos, o que eles cumpriram”, explicou um conselheiro americano, sob condição de anonimato, à CNN. “E agora temos um mecanismo em funcionamento, onde trabalhamos de perto com os mediadores e com eles para fazer o possível para recuperar o maior número possível de corpos.”
As Forças de Defesa da Israel (FDI), por sua vez, afirmaram que um dos corpos devolvidos não corresponde a nenhum dos cativos. Em resposta, um porta-voz israelense frisou que o país não fará “concessões nisso” e não poupará “esforços até que nossos reféns mortos retornem, cada um deles”. Na segunda-feira, 13, os 20 sequestrados ainda vivos retornaram a Israel.
Pressionado por Israel e pelos Estados Unidos, o Hamas indicou que a devolução depende do envio de maquinário pesado e equipamentos de escavação para retirar os cadáveres dos escombros em Gaza, reduzida a ruínas pelos dois anos de guerra. O rastro de destruição é 12 vezes maior do que a Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. De cada 10 edifícios, oito foram danificados ou arrasados.
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‘Desafio enorme’
O plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aceito por Israel e pelo Hamas na semana passada, estabelecia que os combatentes teriam 72 horas para devolver todos os reféns, vivos e mortos. Mas, ao longo das negociações, o Hamas já havia sinalizado que não estava em posse de todos os corpos, devido à destruição de Gaza. A Cruz Vermelha, responsável pelo trâmite dos restos mortais a Israel, avalia que talvez parte deles nunca seja encontrada nos escombros do enclave palestino.
“É um desafio ainda maior do que libertar as pessoas vivas. É um desafio enorme”, disse o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Christian Cardon, ao jornal britânico The Guardian, acrescentando que localizar os corpos pode levar de dias a semanas.
O ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, também advertiu que o processo pode demorar. Ele disse em entrevista à CNN que “recolher os restos mortais levará algum tempo porque eles estão sob os escombros e há muitos materiais explosivos e dispositivos sob os escombros”. Egito, Catar e Estados Unidos atuaram como mediadores do conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023.
“Portanto, chegar até eles será um pouco difícil. Mas estamos fazendo o nosso melhor”, continuou o ministro. “(O presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi) falou abertamente que existem alguns impedimentos em terra e que precisamos fazer esforços extras para encontrar, descobrir e recolher os restos mortais.”
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Cessar-fogo frágil
De um lado, Israel alega que o Hamas descumpriu o acordo por, até o momento, não ter devolvido todos os reféns. Do outro, um alto funcionário do grupo radical, sob condição de anonimato, acusa Israel de violar os termos ao matar pelo menos 24 pessoas em tiroteios desde a última sexta-feira, 10, quando a trégua entrou em vigor.
Ele informou à agência de notícias Reuters que uma lista dos desrespeitos israelenses foi enviada aos mediadores do acordo e disse que “o Estado ocupante (em referência à Israel) está trabalhando dia e noite para minar o acordo por meio de violações no local”. Em declaração anterior às acusações, o governo israelense afirmou que alguns palestinos ignoraram alertas do Exército para que não se aproximassem das posições israelenses e que as tropas “abriram fogo para dissipar a ameaça”.