As Forças Armadas dos Estados Unidos enviaram armas nucleares para o Reino Unido pela primeira vez em quase duas décadas, revelaram analistas de código aberto no último sábado, 19. Foi identificada uma decolagem de aeronave da Base Aérea de Kirtland, no Novo México, sede do Centro de Armas Nucleares da Força Aérea dos EUA (USAF), rumo a uma instalação da Força Aérea Real (RAF) do Reino Unido em Lakenheath, na Inglaterra, em 16 de julho. Ficou por lá por dois dias e depois retornou ao território americano.
A base de Lakenheath foi usada para abrigar armas nucleares dos Estados Unidos ao longo da Guerra Fria (1947-1991), mas deixou de hospedar os dispositivos em 2008 com o avançar da política de desarmamento na Europa. A compra acaba por apontar a mudança de postura de países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental, em meio à deterioração das relações com a Rússia, em guerra com a Ucrânia desde fevereiro de 2022.
“Parece que (o avião) foi para a Inglaterra, deixou essas armas lá e depois voltou às operações normais nos EUA. Sabemos que essas instalações vêm sendo preparadas para receber armas nucleares há anos”, explicou William Alberque, ex-diretor de não proliferação nuclear da Otan e pesquisador sênior no instituto de política externa Pacific Forum, ao jornal britânico The Times.
“Eles decidiram que precisavam reforçar a dissuasão americana na Europa após a invasão da Crimeia pela Rússia em 2014. Alteraram o orçamento para reformar o armazenamento da RAF Lakenheath. É um local que abrigou armas nucleares durante grande parte da Guerra Fria. As primeiras armas nucleares dos EUA na Europa estavam no Reino Unido”, acrescentou.
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Armas nucleares na Otan
Na segunda-feira, 21, o Ministério da Defesa do Reino Unido confirmou que 12 aeronaves F-35A de quinta geração, cuja compra foi anunciada no mês passado, poderão transportar armas americanas para fortalecer a Missão Nuclear da Otan.
“Os novos caças, baseados na RAF Marham, estarão disponíveis para voar na Missão Nuclear da Otan”, disse um documento do Ministério da Defesa britânico nesta segunda. “Essa decisão reintroduz um papel nuclear para a RAF pela primeira vez desde que o Reino Unido aposentou suas armas nucleares aéreas soberanas após a Guerra Fria.”
Os EUA são donos de armas nucleares estratégicas e não estratégicas — essas últimas, variantes da bomba gravitacional B61, também são chamadas de “táticas”. Estima-se que, ao todo, o governo americano detenha cerca de 200 armas nucleares táticas, das quais metade está posicionada em países da Otan, como Alemanha e Bélgica. Elas são projetadas para o campo de batalha e, por isso, têm um rendimento menor em comparação às estratégicas.
