A economia dos Estados Unidos enfrenta um novo ponto de inflexão. A paralisação parcial do governo federal — o chamado shutdown — já afeta diretamente o emprego e o crescimento, ao mesmo tempo que eleva a pressão sobre o Federal Reserve (Fed) e o presidente Donald Trump. O alerta foi feito pela economista Bruna Allemann, chefe de investimentos internacionais da Nomos, em entrevista ao programa Mercado, apresentado por Diego Gimenes.
Segundo ela, o impacto da suspensão de atividades públicas é significativo: “São 750 mil funcionários afastados, e o presidente americano fala até em demitir parte deles. Isso inevitavelmente tem reflexos sobre o PIB e as projeções de inflação e juros.” Dados recentes do mercado de trabalho já confirmam a desaceleração. O relatório da ADP, que mede o emprego no setor privado, mostrou criação de vagas 32 mil abaixo do esperado — um sinal de que a economia começa a perder fôlego.
Bruna observa que ainda é cedo para prever uma recessão técnica, que exige queda do PIB por dois trimestres consecutivos, mas reconhece que o cenário preocupa. “O curto prazo já mostra um impacto relativo sobre o PIB. Se o shutdown se prolongar, os efeitos serão mais amplos e duradouros”, disse.
A economista destacou ainda que a situação fiscal americana limita as opções do governo e do Fed. “O déficit público e o custo da dívida de curto prazo estão crescendo rapidamente. Se o corte de juros não acontecer, essa dívida se multiplica e engessa as decisões de política econômica”, explicou. O dilema, segundo ela, é que juros elevados aumentam o custo do endividamento, mas reduzi-los cedo demais pode reacender pressões inflacionárias.
Para a economista, o governo Trump enfrenta o desafio de conciliar política e economia em um cenário de alto risco. “O Fed está sob pressão para agir, mas não é apenas uma questão técnica — há uma dimensão política clara. O que está em jogo agora é a capacidade dos Estados Unidos de administrar sua própria hegemonia sem entrar em uma espiral de dívida e recessão”, concluiu.
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