Chega aos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira, 17 de julho, um dos piores filmes de terror do ano — não que a qualidade altamente duvidosa seja choque para elenco ou equipe de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, remake do filme homônimo que, em 1997, foi também lançado como aposta certa no horror de baixo calão. Seguindo a onda de ressurreições de franquias do gênero, como aconteceu recentemente com Halloween, O Exorcista e Pânico, a produção nada mais é que reciclagem de lixo do passado — mas, ao menos, faz isso com certa honestidade. Ao que parece, a diretora Jennifer Kaytin Robinson do filme — que tem no currículo a comédia Justiceiras (2022), da Netflix — resolveu se divertir e fazer um longa ruim de propósito, marcado por um roteiro engessado e expositivo, figurinos derivados de microtendências do TikTok e o retorno gratuito de dois protagonistas do original. Trata-se de uma proposta que ora diverte, ora confunde, até se revelar o que de fato é: apenas mais um projeto oportunista e preguiçoso de Hollywood, que recorre incansavelmente a repetecos de tudo que é reconhecível ao público.
Aos desavisados ou de memória fraca, o primeiro Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado conta a história de quatro amigos adolescentes responsáveis pelo atropelamento de um homem. Um ano depois do acidente, um tipo misterioso passa a caçá-los. Na trama da vez, um grupo de jovens abastados de 25 anos se reúne na cidade litorânea de Southport para a festa de noivado da patricinha esotérica Danica (Madelyn Cline) com o brutamontes Teddy (Tyriq Withers). Como no primeiro filme, o quinteto pega o carro na noite de 4 de julho e decide subir uma das montanhas da região para assistir aos fogos de artifício. Lá, um acidente ocorre e causa a morte de um estranho. Doze meses depois, chega a carta que diz “eu sei o que vocês fizeram no verão passado” e um assassino vestido de pescador começa sua chacina. A ideia de que o infortúnio poderia se repetir de forma tão idêntica exige do espectador muita boa vontade e quebra, de cara, qualquer imersão genuína na trama.
Daí para a frente, o longa investe no humor à la Todo Mundo em Pânico, no qual Cline sobressai, mais adequada que seus colegas às piadas baseadas em estereótipos da Geração Z e, portanto, mais convidativa à simpatia do público. Fora ela, o senso de humor evoca nostalgia pela safra de slashers dos anos 1990 protagonizada por personagens desagradáveis e desprovidos de inteligência, criados apenas em nome do sex appeal e da morte. Já a nova mocinha, Ava (Chase Sui Wonders), tem pouca personalidade. Enquanto isso, retornam a protagonista original Julie James (Jennifer Love Hewitt) e seu par romântico Ray (Freddie Prinze Jr.). Agora divorciados, eles vivem distantes. Ela tenta deixar o passado para trás como professora universitária, enquanto ele carrega o trauma à flor da pele. Ambos, porém, são pouco mais do que decoração e recebem os diálogos mais cafonas da obra. Dentre as referências ao passado, as que melhor funcionam são acenos à perseguição que culmina na morte de Helen Shivers (Sarah Michelle Gellar) no original — sem que qualquer uma tente chegar ao mesmo suspense daquele momento, até hoje ápice da franquia.
Inteiramente comprometido à piada de sua própria existência, o longa corre e deixa de lado a preocupação com uma trama coesa. Chega assim, por acidente, a uma conclusão sem graça. É uma receita complicada. Autoconsciência e ironia são ingredientes bem-vindos no terceiro longa de uma franquia sem pé nem cabeça, mas uma pitada a mais foi suficiente para acabar com o equilíbrio.
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