Por séculos, os restos de uma estrela destruída ficaram pairando no espaço como uma cicatriz brilhante no céu. Agora, graças ao telescópio Very Large Telescope (VLT), no Chile, cientistas identificaram o que aconteceu ali: foi uma supernova do tipo Ia — uma das explosões mais poderosas do cosmos — que ocorreu de forma surpreendente. Em vez de apenas um colapso repentino, como se pensava, a estrela explodiu duas vezes antes de se desfazer completamente.
Esse fenômeno raro, chamado de “dupla detonação”, foi detectado nos restos da supernova SNR 0509-67.5, localizados na galáxia vizinha Grande Nuvem de Magalhães. A descoberta foi publicada nesta terça-feira (2) na revista Nature Astronomy.
Por que essa explosão é diferente das outras?
Supernovas do tipo Ia são geradas por anãs brancas — estrelas pequenas e densas que restam após o fim da vida de estrelas como o nosso Sol. Normalmente, elas explodem quando acumulam muita matéria de uma estrela companheira, atingindo um limite de massa conhecido como “massa de Chandrasekhar”. Mas neste caso, a detonação aconteceu antes desse ponto.
Segundo os pesquisadores, a anã branca envolveu-se com uma camada de hélio roubada da estrela vizinha. Quando essa camada externa explodiu, desencadeou uma segunda explosão no núcleo da estrela. O rastro deixado por esse processo pôde ser identificado na forma de duas conchas distintas de cálcio espalhadas pela nebulosa — uma assinatura visual que só poderia ser explicada por esse tipo específico de morte estelar.
A descoberta ajuda a entender por que essas supernovas têm sempre o mesmo brilho, o que faz delas uma ferramenta importante para medir distâncias no universo. Foi com base nessas explosões que cientistas identificaram a aceleração da expansão do cosmos — um achado que rendeu o Nobel de Física em 2011. Agora, com essa imagem inédita, os astrônomos finalmente têm uma peça visual que comprova o que antes era apenas hipótese.