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‘Estou abandonado à própria sorte’, disse delegado assassinado no litoral paulista

O assassinato do ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, executado no litoral paulista, expôs uma vulnerabilidade conhecida de quem enfrenta o crime organizado: a falta de proteção após o fim da carreira. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Ricardo Ferraz, o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco-SP, revelou que o colega, ainda em vida, desabafava sobre a sensação de abandono. “Lincoln, o senhor ainda dispõe de segurança, de escolta, e eu estou abandonado à própria sorte”, contou Rui a Gakiya meses antes de ser morto.

Para o promotor, a hipótese de retaliação do Primeiro Comando da Capital (PCC) não pode ser descartada. Ruy foi o primeiro delegado a identificar Marcola como líder da facção, nos anos 2000, e esteve à frente de operações decisivas, como o isolamento da cúpula do PCC na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau em 2006. Desde então, segundo Gakiya, o delegado havia sido jurado de morte pela organização criminosa.

Apesar das suspeitas sobre a atuação do PCC, o promotor ressaltou que nenhuma linha de investigação deve ser descartada. Ruy exercia atualmente funções na Prefeitura de Praia Grande, o que abre outras possibilidades para a motivação do crime. “É claro que pode haver outras razões, mas eu sei pessoalmente que havia ordens para matá-lo”, afirmou.

Ataques do PCC contra autoridades

A morte do delegado se soma a uma lista de ataques de alto impacto contra autoridades ligadas ao combate ao crime organizado. Gakiya lembrou os casos do juiz Antônio José Machado Dias, morto em 2003, e do ex-diretor do Carandiru Ismael Pedrosa, executado em 2005, ambos alvos de facções criminosas.

Na avaliação do promotor, o episódio expõe o crescimento e a sofisticação do PCC, que hoje opera com características de máfia e já teria alcançado infiltração em setores do Estado e do sistema financeiro. “É justamente na aposentadoria que a guarda baixa e os cuidados diminuem, transformando investigadores em presas fáceis”, advertiu.

Gakiya reforçou que o Ministério Público atuará em cooperação com as polícias para elucidar o crime, mas fez um alerta mais amplo: “É preciso evitar que o Brasil se acostume a ver investigadores e autoridades mortos por organizações criminosas”.

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