Quando se trata de arte e definição de preços, sempre entra em cena um forte componente subjetivo. Não só relacionado ao bolso de quem compra, como do mercado inteiro: quem criou a peça, locais em que foi exposta e outros fatores.
Isso sempre gera polêmica, como aconteceu em 2024 com a obra Comedian, de Maurizio Cattelan, que foi vendida por US$ 6,2 milhões — apesar de consistir em nada mais que uma banana presa a uma parede com fita adesiva. Será que a tecnologia pode entrar em cena para tentar deixar transações do tipo menos polêmicas?
Existem ferramentas de inteligência artificial internacionais criadas justamente para isso (veja mais sobre elas daqui a alguns parágrafos) e está para sair do papel uma iniciativa brasileira. É a iArremate Legacy, plataforma que pretende usar dados, modelos econométricos e algoritmos para tentar trazer mais transparência à definição dos preços de arte.
O objetivo é fazer com que as transações de arte no Brasil funcionem como um ativo mensurável e comparável, assim como ações ou imóveis. “É uma tecnologia que tem como propósito impulsionar uma transformação institucional do mercado”, afirma Vinícius Villela, CEO da empresa
A novidade, prevista para o segundo semestre, nasce da experiência de mais de uma década do iArremate, especializada em leilões online. “A informação imperfeita sempre foi a grande trava do mercado de arte. O Legacy foi criado para ser um antídoto contra isso”, diz Thierry Chemale, economista da FGV e responsável pela validação científica do projeto.
Na prática, a iniciativa criará indicadores inéditos, como o Índice de Valorização de Artistas e o Índice de Liquidez de Obras. Isso permitirá que colecionadores e investidores – dos mais experientes a um novo público mais jovem, acostumado com o mercado financeiro – tomem decisões baseadas em métricas objetivas, e não apenas na intuição.
Iniciativas gringas de IA para o mercado de arte
Algumas ferramentas internacionais utilizam inteligência artificial para estimar, analisar e prever preços de obras de arte. Deixo aqui três delas:
Limna: Um dos primeiros apps algoritmos de machine learning para estimar preços de obras de arte instantaneamente. Analisa dados de mais de 700.000 artistas e 1 milhão de exposições, além de informações sobre galerias, leilões, presença em mídias e redes sociais.
Magnus: Conhecida como o “Shazam da arte”, permite ao usuário fotografar uma obra e identificar o artista, título e preços de venda anteriores, com base em um banco de dados de mais de 8 milhões de registros de leilões e galerias.
Wondeur: Além dos dados de leilão, analisa redes de relacionamento de artistas com galerias, casas de leilão e outros agentes do mercado para prever não apenas o preço de obras, mas também o potencial de valorização e trajetória de carreira dos artistas.
Acredito que alguns segmentos, por mais que haja investimento em tecnologia, dificilmente deixarão de ser movidos por um quê de paixão. Por isso, eu arriscaria dizer que embora as ferramentas de IA certamente façam diferença na rotina de quem negocia arte, não haverá um cenário em que a subjetividade saia de cena. O que, na verdade, nem é o objetivo, né? O foco, parece, é em tomar decisões mais embasadas. E nisso, com certeza, a tecnologia pode ajudar.