Referência da indústria de chips americana, a Intel perdeu a onda da inteligência artificial (IA). Apesar disso, a empresa continua sendo uma das mais importantes do mundo no provimento de tecnologias amplamente utilizadas pela população. “Ela ainda é extremamente relevante no segmento em que atua”, diz Pietro Delai, diretor global de pesquisa em infraestrutura da International Data Corporation (IDC).
O ânimo do mercado em relação à companhia foi reavivado recentemente quando o governo dos Estados Unidos, comandado por Donald Trump, e uma das principais fabricantes de chips americanas, a Nvidia, adquiriram participações relevantes na Intel entre agosto e setembro. Os investidores torcem para que as parcerias com o Estado e a vanguardista do setor ajudem na tão aguardada modernização da Intel.
Apesar de ser líder no mercado de CPUs (unidade central de processamento, na sigla em inglês), o tipo de chips mais utilizado no mundo, a Intel não avançou como seus principais concorrentes no segmento de GPUs (unidade de processamento de gráficos), peça fundamental do chamado machine learning (aprendizado de máquina), utilizado no treinamento de modelos de IA. “A Intel não investiu no mercado que mais cresce e que acabou se tornando o mais valioso. Perderam a onda”, diz Delai.
Desde o anúncio de que o governo americano compraria 10% da Intel, há cerca de um mês e meio, as ações da empresa subiram quase 30%. Já nos oito meses que precederam a divulgação, entre janeiro e agosto, a alta foi próxima de 40%. A reação do mercado é particularmente relevante para uma empresa cujo faturamento trimestral caiu de 16 bilhões de dólares no início de 2019 para 12,6 bilhões de dólares seis anos depois.
No mesmo recorte temporal, o faturamento da Nvidia — queridinha da nova onda da IA — disparou de apenas 2,2 bilhões de dólares para impressionantes 44 bilhões de dólares trimestralmente. Na última divulgação de resultados, referente ao segundo trimestre deste ano, a empresa já registrava um faturamento de 46 bilhões de dólares — equivalentes a quase 250 bilhões de reais. A parceria da empresa com a Intel se baseia em um investimento de 5 bilhões de dólares no negócio.
O diretor do IDC aponta que as CPUs, segmento onde a Intel lidera, não ficarão obsoletas por conta da inteligência artificial. “Nem toda tarefa precisa ser desempenhada com GPU. Cada tecnologia atende uma necessidade diferente”, diz. A Intel tem consciência disso. “A parceria com a Nvidia é complementar ao planejamento existente da Intel e vai permitir soluções adicionais desenvolvidas para acelerar fluxos de trabalho com IA e expandir o alcance da Intel em mercados de computação de alta performance”, disse a empresa a VEJA, em nota.
Uma vantagem competitiva da Intel é que a empresa é a única presente na cadeia de produção de chips “de ponta a ponta”, segundo Delai, diferentemente, inclusive, da Nvidia. A dúvida é por quanto tempo essa vantagem competitiva seguirá relevante se não vier acompanhada de uma maior penetração no negócio dos chips para treinamento de IA. O espaço que a Intel ocupa hoje, de todo modo, dá certa tranquilidade à empresa, que não corre qualquer risco de desaparecer.