O uso de medicamentos psiquiátricos tem crescido em todo o mundo – se por um lado há um bem-vindo aumento nos diagnósticos, por outro há também uma banalização do emprego dessas drogas. Agora, um estudo acende um alerta: esses usuários podem estar sob um maior risco de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
Apesar do anúncio, não há motivos para alarme. O risco de desenvolver essa doença neurodegenerativa ainda é muito baixo e o estudo não foi capaz de dizer se a ELA está sendo causada pelo uso dos medicamentos. Na verdade, o contrário também é uma opção a ser investigada: pode ser que os sintomas que levaram ao uso dos remédios psiquiátricos sejam os primeiros sinais da doença neurodegenerativa.
“Associação não necessariamente significa causalidade, mas o estudo pode acender um alerta para os profissionais de saúde”, diz Diogo Haddad, chefe do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Se os pacientes estão em uso de medicamentos psiquiátricos e apresentarem algum sintoma neuromuscular, isso pode ser sinal do início de uma doença neurológica.”
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O trabalho foi publicado no periódico Jama Network e ele aponta que o uso de ansiolíticos está associado a um risco 34% maior de desenvolver ELA. Já os antidepressivos e sedativos tiveram relação com riscos 26% e 21% superiores, respectivamente.
Investigações anteriores já haviam associado sintomas psiquiátricos a condições neurológicas, mas essa relação ainda não é bem compreendida. “Como alguém que estuda como o estresse e a inflamação afetam o cérebro e como eles respondem aos antidepressivos, não me surpreende que doenças psiquiátricas possam indicar vulnerabilidade precoce a condições como a ELA”, afirmou Susannah Tye, pesquisadora do Instituto do Cérebro da Universidade de Queensland, na Austrália.
E acrescenta. “O que muitas vezes é ignorado é que sintomas psiquiátricos refletem mudanças biológicas reais e não apenas sofrimento mental. Transtornos psiquiátricos estão associados a estresse crônico, inflamação sistêmica e disfunção metabólica, fatores cada vez mais ligados à neurodegeneração. Este estudo reforça essa relação, mas não prova que os medicamentos causam o risco.”
O que é esclerose lateral amiotrófica?
A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença degenerativa que afeta todo o sistema nervoso, causando uma paralisia gradual, progressiva e irreversível. Apesar da gravidade, ela é bastante rara: no ocidente, ocorre um diagnóstico para cada 50 mil pessoas anualmente.
A causa ainda é desconhecida e, por enquanto, ainda não há uma cura disponível, embora os medicamentos sejam capazes de desacelerar a progressão. “Para um diagnóstico precoce as pessoas precisam ficar atentas a sintomas como fraqueza que progridem rapidamente, dificuldade de falar e engolir, atrofia muscular, espasmos e cãibras frequentes”, alerta Haddad.
A prevenção também é difícil, mas se manter saudável é uma boa estratégia para tentar se proteger – tratar saúde mental, fazer atividades físicas e evitar exposição a substâncias tóxicas, como o álcool e o cigarro.