Sob pressão crescente da comunidade internacional diante das cenas de fome e devastação em Gaza, o enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Steve Witkoff, se reuniu nesta quinta-feira, 31, com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
A visita tem como objetivo destravar as negociações por um cessar-fogo e ampliar a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino.
Logo após a chegada de Witkoff, o presidente Donald Trump escreveu em sua rede social Truth Social: “A forma mais rápida de encerrar a crise humanitária em Gaza é o Hamas SE RENDER E LIBERTAR OS REFÉNS!!”.
A visita ocorre em meio a um cenário crítico. De acordo com autoridades médicas locais, pelo menos 156 pessoas morreram de fome ou desnutrição desde o início da guerra, a maioria delas nas últimas semanas, incluindo pelo menos 90 crianças.
Segundo a ONU, mais de mil palestinos foram mortos por forças israelenses ao tentar acessar ajuda humanitária desde o fim de maio.
Apesar de o Exército de Israel ter prometido suspender temporariamente suas operações por dez horas diárias em algumas áreas para permitir a distribuição de mantimentos e medicamentos, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários alertou que a quantidade de ajuda ainda está longe de atender às necessidades básicas da população.
Cenas de desespero se acumulam. Moradores relatam riscos tanto por parte dos militares israelenses quanto de saqueadores palestinos durante a tentativa de buscar alimentos.
Enquanto isso, as negociações indiretas entre Israel e o Hamas continuam emperradas. As conversas mediadas por Catar e Egito em Doha terminaram na semana passada sem acordo, com impasses sobre os termos da retirada militar israelense da Faixa de Gaza.
Israel respondeu recentemente às últimas emendas do Hamas a uma proposta americana que prevê uma trégua de 60 dias, troca de prisioneiros e liberação parcial dos reféns.
O Hamas, que ainda mantém cerca de 50 pessoas em cativeiro, das quais se estima que 20 estejam vivas.
A pressão sobre o Hamas também vem de dentro. Com o número de mortos palestinos ultrapassando 60 mil desde o início da guerra, aumentam as cobranças para que o grupo aceite um cessar-fogo.
Mesmo sob apelos por paz, o governo israelense reafirmou que não aceitará o fim da guerra enquanto o Hamas continuar no poder.
Netanyahu, pressionado por aliados de extrema-direita que defendem a reconquista de Gaza e a reinstalação de assentamentos judaicos na região, insiste que o grupo palestino deve ser desarmado e destituído. O Hamas, por sua vez, rejeita a exigência.
Na arena diplomática, as tensões também se intensificam.
O Departamento de Estado dos EUA anunciou sanções contra integrantes da Autoridade Palestina (AP) e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), acusando-os de minar os esforços de paz, uma medida que sinaliza um afastamento ainda maior de Washington em relação à Europa, que nas últimas semanas viu França, Reino Unido e Canadá cogitarem reconhecer oficialmente o Estado palestino.
Dois ministros israelenses, Israel Katz (Defesa) e Yariv Levin (Justiça), aproveitaram o momento para defender a anexação da Cisjordânia, território ocupado por Israel e que os palestinos desejam ver como base para um futuro Estado.
Catar e Egito expressaram apoio à declaração conjunta de França e Arábia Saudita, que propõe uma transição para a solução de dois Estados.
No texto, afirmam que o Hamas deve deixar o poder e entregar suas armas à Autoridade Palestina, algo que Israel rejeita categoricamente.
Enquanto isso, o enviado de Trump deverá visitar um centro de distribuição de ajuda em Gaza. A situação humanitária no território continua dramática, com a população civil enfrentando escassez extrema de alimentos, água potável e medicamentos.