Em meio a uma série de renúncias e disputas internas no alto escalão do Grupo Pão de Açúcar (GPA), a situação da companhia, que acumula prejuízos na casa de 5 bilhões de reais nos últimos três anos, chamou ainda mais atenção por um aspecto específico: a impressionante remuneração de Ronaldo Iabrudi, ex-CEO e atual chairman da empresa.
Entre 2014 e 2023, Iabrudi recebeu, nominalmente, 483 milhões de reais pelos seus serviços. Quando ajustada pelo CDI, a cifra atinge 870 milhões de reais — o equivalente à cerca de 60% do valor de mercado do GPA hoje.
Os números constam em documentos públicos, como os formulários de referência do GPA e do Grupo Sendas, e confirmam que, durante os anos em que esteve à frente da alta gestão, Ronaldo Iabrudi foi consistentemente o executivo mais bem remunerado, seja na Diretoria Estatutária ou no Conselho de Administração, segundo fontes ouvidas pela coluna.
Recentemente, a remuneração do board foi objeto de discussão em uma das reuniões do conselho. De acordo com a coluna Pipeline, do Valor Econômico, o conselheiro Edison Ticle sugeriu zerar os salários dos membros do conselho, propondo em troca um programa de remuneração baseado em ações, alinhado com a recuperação da empresa, ou a adoção de um salário-mínimo fixo acompanhado de um plano de longo prazo.
A proposta, no entanto, foi rejeitada. A maioria dos conselheiros – incluindo o Iabrudi – aprovou o montante de 9,2 milhões de reais de remuneração para o colegiado. Ticle, então, apresentou uma declaração de voto separado, assinada também por outros três conselheiros.
A divergência interna, que transborda para fora do conselho, teve desdobramentos. Neste mês, tanto Edison Ticle quanto Sebastian Los renunciaram aos seus cargos no comitê de auditoria do GPA, justificando suas saídas em uma carta enviada aos demais membros. No documento, mencionaram conflitos sobre “a interpretação de princípios essenciais de governança e independência”.
As renúncias não pararam por aí. Nesta semana, André Nassar e Diego Mendes também abdicaram de suas funções no conselho fiscal da varejista.
Em sua carta de renúncia, Nassar criticou severamente a governança do GPA, afirmando que “a gestão da empresa é aparelhada para atender primordialmente aos interesses de um pequeno grupo de acionistas, que controla com mão de ferro a gestão e governança da companhia, a partir do Conselho de Administração”. Ele também alegou que esses interesses frequentemente se “sobrepõem aos interesses da própria empresa e, consequentemente, aos interesses dos acionistas minoritários”.