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Enema e lavagem intestinal para perder peso: faz sentido apelar a isso?

A lavagem intestinal, também conhecida como irrigação colônica ou enema, é um procedimento comum na medicina na qual realizamos a introdução de líquidos no reto e no intestino grosso com o objetivo de remover resíduos fecais.

Na prática, enemas são utilizados apenas sob supervisão e em situações específicas (como preparo para exames, como colonoscopia, ressonância magnética de pelve para pesquisa de endometriose, entre outros) ou preparo cirúrgico de cirurgias no intestino.

Fora desse contexto, o procedimento tem sido realizado em clínicas com promessas de “limpeza intestinal”, melhora da imunidade ou emagrecimento, como recentemente revelado pela cantora Gaby Amarantos, que afirmou ter perdido 14kg após uma lavagem no intestino.

Porém, todas essas indicações não têm comprovação científica. O intestino não precisa ser limpo. Ele tem funcionamento próprio e eficiente, e interferir nesse processo pode trazer consequências graves.

Instituições médicas internacionais, como a Mayo Clinic, Cleveland Clinic, Food and Drug Administration (FDA) e a American Gastroenterological Association (AGA), além da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, alertam que a lavagem intestinal para fins não médicos não é recomendada e pode causar complicações sérias, inclusive fatais. Esses órgãos destacam que o procedimento não promove emagrecimento e pode resultar em desequilíbrios importantes no organismo.

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A perda de peso observada após a lavagem intestinal não corresponde à eliminação de gordura. É um efeito transitório, ligado à evacuação e à perda de líquido, e não deve ser confundido com emagrecimento real.

Riscos e possíveis complicações

Estudos descrevem riscos severos associados à irrigação colônica fora da prática médica, como perfuração intestinal ou retal, que pode exigir cirurgia de urgência e evoluir com infecção generalizada (sepse); infecções bacterianas graves, especialmente quando há falhas na higienização de equipamentos; desequilíbrio hidroeletrolítico, com alterações de sódio e potássio capazes de causar arritmias cardíacas e risco de morte; desidratação e insuficiência renal aguda, resultantes de perda excessiva de líquidos; alteração da microbiota intestinal, prejudicando o equilíbrio de bactérias benéficas e a saúde digestiva.

Além da perfuração intestinal, há risco de sepse e até de óbito, descritos em publicações científicas. Esses casos, embora incomuns, reforçam o perigo de realizar o procedimento sem indicação médica.

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A lavagem intestinal com fins de emagrecimento ou desintoxicação não é recomendada pelas boas práticas médicas. Não há benefício comprovado, e o potencial de dano supera amplamente qualquer possível ganho. A conduta médica deve sempre se basear em evidência, indicação e segurança, e nenhum desses pilares é atingido com a lavagem intestinal para fins de emagrecimento. Essa prática é invasiva, desnecessária e arriscada. Não tem base científica e contraria os princípios da medicina baseada em evidências.

Cuidados e recomendações

Para promover a saúde intestinal e controlar o peso, as medidas eficazes continuam sendo: alimentação equilibrada e rica em fibras; boa hidratação; atividade física regular; acompanhamento com médico e nutricionista; evitar métodos invasivos ou sem respaldo científico.

O emagrecimento saudável depende de hábitos sustentáveis, não de intervenções agressivas. Nenhuma lavagem intestinal é isenta de risco, e nenhuma é indicada com esse propósito de emagrecimento.

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* Ana Sarah Portilho é coloproctologista, diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e possui fellowship em cirurgia colorretal robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein (SP)

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