A trajetória da EMS é daquelas que raramente se veem na indústria farmacêutica. Criada em 1964 pelo empreendedor Emiliano Sanchez, a empresa saiu das prateleiras modestas de um pequeno laboratório para ocupar o topo do mercado brasileiro… — e agora mira o mundo. Com receita líquida de 7,7 bilhões de reais em 2024, é a maior do setor por esse indicador. Seu lucro líquido de 850 milhões, com retorno de 58% sobre o patrimônio, está entre os motivos de despontar como a melhor das farmacêuticas neste ranking das TOP30. O impulso mais recente vem de um filão que revolucionou o negócio global de medicamentos: os tratamentos contra obesidade e diabetes, área que transformou a dinamarquesa Novo Nordisk em ícone de inovação e rentabilidade.

O símbolo mais eloquente dessa transformação é a nova fábrica de peptídeos da EMS, em Hortolândia (SP) — a primeira e única do tipo no país —, erguida com investimento superior a 1 bilhão de reais. É ali que ganham forma as canetas Olire e Lirux, versões nacionais à base de liraglutida, princípio ativo usado em tratamentos de controle de peso e glicemia, lançadas em agosto. “Desenvolvemos um produto no país, com tecnologia brasileira, do zero”, afirma Carlos Sanchez, presidente do conselho de administração e herdeiro da família fundadora. Em pouco mais de um mês, as vendas superaram em 20% as projeções iniciais, um indício do apetite do mercado por alternativas eficazes e mais acessíveis.
A EMS projeta que o mercado de medicamentos para obesidade e diabetes poderá movimentar mais de 20 bilhões de reais por ano a partir de 2026, divididos em partes iguais entre o Brasil e as exportações, com foco especial nos Estados Unidos. A vocação internacional não é novidade: a empresa já vende para 55 países. No Brasil, está presente em 95% dos pontos de venda farmacêuticos. O que muda agora é o salto tecnológico proporcionado pela fábrica de peptídeos em Hortolândia e o domínio da síntese de princípios ativos, avanços que colocam a companhia em um novo estágio, o de produtora completa, da molécula ao medicamento. “As farmacêuticas do futuro serão muito mais do que estruturas comerciais”, diz Grazielle Alves, gerente sênior da consultoria EY-Parthenon. “Cada vez mais, elas atuarão como pontes entre ciência, cuidado e experiência do paciente.” A especialista diz que a nova fronteira da indústria passa pelo avanço dos fabricantes locais na produção de biossimilares e no desenvolvimento de moléculas inéditas no país, um movimento que pode redefinir o papel do Brasil no mapa global da inovação farmacêutica.
Todo ano, a EMS destina 6% da receita a pesquisa e desenvolvimento — segundo a empresa, é o maior investimento proporcional do setor na América Latina. São 800 pesquisadores dedicados a projetos que vão de genéricos complexos a terapias biotecnológicas. Num momento em que a indústria busca o “Ozempic brasileiro”, a EMS aposta que a inovação feita no país pode se tornar seu grande diferencial competitivo.
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19
