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“Empresas perdem muito capital intelectual ao demitir profissionais 50+”

Quase todo dia vejo nas redes sociais profissionais acima dos 50 anos — às vezes até um pouco abaixo, aliás — contarem sobre demissão e dificuldade de recolocação. Será que existe perspectiva de mudança? Esse foi um dos tópicos que surgiu em minha conversa com Marcos Ferreira, um dos criadores da aceleradora de negócios Silver Hub.

Como o próprio nome indica, o negócio dele é procurar startups focadas em melhorar a vida das pessoas maduras por meio da tecnologia. Ferreira, que foi CEO da Mapfre no Brasil e na América do Sul, percebeu o potencial do segmento ao mergulhar numa especialização em longevidade, durante a qual nasceu a empresa.

Aqui ele fala sobre o segmento, que tem potencial de se expandir conforme todos nós envelhecemos. Uma projeção do IBGE estima que, em 2050, o Brasil terá 30% de sua população com idade acima dos 60 anos.

VEJA: O que exatamente é uma agetech?
Marcos Ferreira: São empresas que nascem para resolver alguma necessidade e trazer soluções ou produtos, utilizando a tecnologia como base para escalar e atender muitas pessoas. O diferencial é que se propõem a trazer soluções para a população madura.

Tenho a impressão de que existe uma obsessão em conquistar as novas gerações, como a Geração Z e a Geração Alfa, enquanto muitas empresas se esquecem do consumidor mais velho, que tem dinheiro.
Marcos Ferreira: A sua percepção é verdadeira. As empresas ainda não acordaram para a potência desse consumidor, talvez porque as áreas de negócios e marketing são lideradas por gente mais jovem. As pesquisas qualitativas mostram que os maduros se sentem pouco representados em campanhas publicitárias e acreditam que não desenvolvem produtos ou serviços pensando neles.

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Quais são as impressões mais equivocadas sobre o público 60+?
Primeiro, a de que, ao chegar aos 60 ou 65 anos, a pessoa deve se aposentar porque perde a capacidade de produzir. Isso não é verdade. As pessoas continuam sendo relevantes e importantes. As empresas perdem muito capital intelectual ao demitir profissionais acima dos 50 anos. Outra crença errada é a de que essa população não é digital e não está conectada. São pessoas que chegam a essa faixa etária com a vida profissional e familiar mais resolvida. E são antenadas, presentes nas redes sociais, usuários de tecnologia.

O etarismo afeta na hora de captar investimento? Investidores têm receio quando uma startup é focada no público mais velho?
No nosso caso, na Silver Hub, não, porque os nossos 16 associados investem porque acreditam na tese da longevidade. Mas, no mercado de forma geral, a gente observa que não existe nenhum fundo de venture capital com uma vertical dedicada à longevidade. Embora a população esteja envelhecendo e o maior volume de ativos no mercado financeiro seja de maduros, os fundos ainda não despertaram para a longevidade como um negócio que merece uma tese específica.

No universo das agetechs, quais áreas têm maior potencial de disrupção?
Metade das startups que vimos têm alguma iniciativa ligada à saúde. Acredito que há potencial em áreas vinculadas à qualidade de vida e bem-estar, pois o público maduro tem dado mais importância a isso. Outro ponto é tudo o que tem a ver com sociabilização, para que as pessoas se mantenham conectadas e ativas. Habitação, como moradias compartilhadas ou infraestruturas adaptadas, é outra frente promissora. Por fim, o cuidado com o idoso, que pode envolver cuidadores ou cuidados a distância, é uma área com grande potencial, já que as estatísticas indicam que faltarão cuidadores no Brasil.

Que mensagem de esperança você daria para quem tem 50 ou 60 anos e está desanimado com o mercado de trabalho?
Acredito que as empresas vão mudar. Não é razoável que continuem perdendo, por decisão própria, a capacidade intelectual de pessoas que se prepararam ao longo da vida para fazer seu ofício. O índice de natalidade em queda trará menos mão de obra disponível para as organizações, então, as empresas vão reter esses profissionais, talvez não formalmente na folha de pagamento, mas vão se manter conectadas a eles, por meio de prestação de serviço ou centros de excelência. Não é razoável desperdiçar a capacidade produtiva desses profissionais.

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