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Empresas, líderes e economistas europeus lamentam acordo comercial com EUA

Embora o anúncio de um acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia antes do prazo final para a implementação do tarifaço do presidente Donald Trump, em 1º de agosto, tenha trazido alívio para os mercados, uma série de governos, empresas e economistas europeus reagiram com preocupação nesta segunda-feira, 28, lamentando o “desequilíbrio” do tratado.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, afirmou que o bloco europeu se rendeu às ameaças de Trump, classificando o acordo firmado na Escócia no domingo 27 como um “dia sombrio” para a União Europeia.

“É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar seus valores comuns e defender seus interesses comuns, se resigna à submissão”, escreveu Bayrou no X (antigo Twitter) nesta segunda-feira.

Outros líderes da França, considerada copiloto do projeto, juntamente com a Alemanha, deixaram clara sua desaprovação.

“Esta situação não é satisfatória e não pode ser sustentada”, disse o ministro francês de Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, no X, instando a União Europeia a ativar seu “instrumento anticoerção”, que permitiria retaliações não tarifárias. O ministro francês do Comércio, Laurent Saint-Martin, também criticou a condução das negociações pelo bloco, dizendo que era necessário retaliações ao que ele descreveu como uma luta pelo poder iniciada por Trump.

Na Bélgica, o primeiro-ministro Bart De Wever afirmou em postagem no X que “este é um momento de alívio, mas não de celebração”. “As tarifas aumentarão em diversas áreas e algumas questões-chave permanecem sem solução”, alertou ele.

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O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, por sua vez, afirmou com pesar que apoia o acordo “sem qualquer entusiasmo”. Ele argumentou que a Europa precisa tirar lições dessa situação e dobrar os planos para alcançar autonomia estratégica, desenvolvendo melhores laços comerciais com outros países, incluindo o Mercosul. Um acordo de livre-comércio com o bloco sul-americano foi assinado no ano passado, mas ainda não foi implementado.

Em entrevista ao jornal alemão Bild, Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, no Parlamento Europeu, descreveu o trato com os Estados Unidos como “mera limitação de danos”. Enquanto isso, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descrevendo Trump como um negociador duro, disse a repórteres no domingo que o acordo era “o melhor que podíamos conseguir”.

Os termos do tratado

Com a conclusão das negociações entre americanos e europeus, a UE evitou um tarifaço de exorbitantes 30% em favor de uma taxa mais palatável, de 15%, sobre cerca de 70% das exportações europeias para os Estados Unidos, incluindo automóveis. Ainda assim, é cerca do triplo da alíquota de 4,8% em vigor atualmente.

Setores importantes da indústria europeia, incluindo peças de aeronaves, alguns produtos químicos, equipamentos semicondutores e alguns produtos agrícolas (como a cortiça usada em garrafas de vinho) e pisos, se beneficiarão de taxa zero. O setor farmacêutico da União Europeia recebeu com alívio a notícia de que não enfrentará tarifas superiores a 15%, diante de uma ameaça de taxação de até 200% no próximo ano.

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As tarifas sobre o aço permanecerão em 50% até que um novo acordo, centrado em cotas, seja firmado.

Em contrapartida, a União Europeia se comprometeu a aumentar investimentos na indústria energética dos Estados Unidos. O bloco se comprometeu a fazer US$ 750 bilhões em compras estratégicas nos próximos três anos, incluindo petróleo, gás natural liquefeito (GNL) e combustível nuclear. No entanto, não está claro como Washington vai conseguir acompanhar a demanda.

Vitória para Trump

A notícia fez com que mercados de ações europeus atingissem a máxima em quatro meses no início do pregão desta segunda-feira. O Dax da Alemanha subiu 0,86%, e o índice Cac 40 da França subiu 1,1%, elevando o índice pan-europeu Stoxx 600 ao seu nível mais alto desde o final de março.

Contudo, empresas e economistas receberam o anúncio do acordo com um pé atrás. O banco alemão Berenberg afirmou que o trato pôs fim à “incerteza paralisante”, mas afirmou que foi uma vitória para Trump.

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“É ótimo ter um acordo. Em dois aspectos principais, no entanto, o resultado continua muito pior do que a situação antes de Trump iniciar sua nova rodada de guerras comerciais no início deste ano”, disse Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg. “As tarifas adicionais dos Estados Unidos prejudicarão tanto o país quanto a União Europeia. Para a Europa, o dano é principalmente antecipado”, completou ele em nota a clientes na manhã de segunda-feira.

Ele acrescentou ainda que “o acordo é assimétrico”. “Os Estados Unidos conseguiram um aumento substancial em suas tarifas sobre importações da União Europeia e, além disso, garantiram novas concessões da União Europeia. Em sua aparente mentalidade de soma zero, Trump pode alegar que isso foi uma ‘vitória’ para ele”, afirmou Schmieding.

O banco italiano UniCredit também avaliou que Trump levou a melhor sobre o bloco europeu. “Este é um bom acordo para a União Europeia? Provavelmente não. O resultado é fortemente assimétrico e deixa as tarifas americanas sobre produtos importados da União Europeia em níveis muito mais altos do que as tarifas da União Europeia sobre importações dos Estados Unidos”, afirmou o UniCredit em nota a clientes.

As empresas europeias, por sua vez, ficaram em dúvida se deveriam comemorar ou lamentar o acordo.

“Quem espera um furacão agradece quando vem uma tempestade”, disse Wolfgang Große Entrup, presidente da Associação Alemã da Indústria Química VCI. “Uma nova escalada foi evitada. No entanto, o preço é alto para ambos os lados. As exportações europeias estão perdendo competitividade. Os clientes americanos estão pagando as tarifas”, ele acrescentou.

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