Um relatório de mais de 300 páginas divulgado nesta terça-feira, 5, pela Guarda Costeira dos Estados Unidos revelou que a empresa OceanGate utilizou “táticas de intimidação” e explorou brechas regulatórias para operar fora dos protocolos de segurança, antes da implosão catastrófica do submersível Titan, que matou cinco pessoas em junho de 2023 durante uma expedição aos destroços do Titanic.
“O acidente marítimo e a perda de cinco vidas eram evitáveis”, afirmou Jason Neubauer, responsável pela investigação. Segundo ele, a OceanGate se apoiou em sua reputação no meio científico e em permissões para fins de pesquisa para escapar de qualquer tipo de supervisão técnica efetiva. “A empresa criou e explorou confusão regulatória para operar completamente à margem dos padrões estabelecidos para mergulhos em grandes profundidades”, diz o documento.
O relatório aponta falhas estruturais no projeto e nos testes do Titan, afirmando que princípios básicos de engenharia foram ignorados, mesmo diante de alertas e danos registrados em viagens anteriores. De acordo com a investigação, o casco do submarino sofreu eventos que comprometeram sua integridade estrutural antes mesmo da tragédia — e ainda assim seguiu operando.
No dia da tragédia, o casco sofreu uma falha crítica que levou a uma implosão “instantânea e catastrófica”. A investigação também descreve uma cultura corporativa “tóxica”, marcada por demissões e ameaças de desligamento para silenciar funcionários e contratados que levantavam preocupações sobre segurança.
Em 2018, o então diretor de operações marítimas da OceanGate apresentou uma denúncia à Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA), alegando ter sido demitido por questionar os planos de desenvolvimento do primeiro casco do Titan. A empresa reagiu com um processo judicial por quebra de confidencialidade. O caso não avançou rapidamente e acabou retirado pelo denunciante, que citou o desgaste emocional da disputa.
Entre as vítimas da implosão estavam Stockton Rush, cofundador da OceanGate; o explorador francês Paul-Henri Nargeolet; o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman, de 19 anos; e o aventureiro britânico Hamish Harding. A Guarda Costeira atribuiu grande parte da responsabilidade a Rush, que teria ignorado alertas sobre danos identificados em 2022.
O relatório afirma que, caso Rush tivesse sobrevivido, recomendaria ao Departamento de Justiça considerar uma investigação criminal por negligência, entendendo que suas ações contribuíram diretamente para as mortes.
Após a divulgação do relatório, a advogada da OceanGate, Jane Shvets, afirmou que a empresa encerrou permanentemente suas operações logo após a tragédia e cooperou integralmente com a investigação da Guarda Costeira.