Um juiz federal negou nesta quarta-feira, 20, um pedido do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tornar público depoimento do grande júri da acusação de Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes que cometeu suicídio na prisão em 2019. O revés ocorre enquanto Trump tenta se desvencilhar de uma teoria da conspiração que ganhou força na sua base política, a Make America Great Again (MAGA), de que fazia parte de uma lista secreta de pessoas envolvidas no esquema de Epstein.
Na decisão de 14 páginas, o juiz Richard M. Berman, de Nova York, afirmou que a única testemunha apresentada ao grande júri havia sido um agente do FBI e que as transcrições “empalidecem em comparação com as informações e materiais da investigação nas mãos do Departamento de Justiça”. Segundo o presidente do principal comitê investigativo da Câmara dos Representantes, o Departamento de Justiça liberará novos documentos sobre o caso Epstein nesta sexta-feira, 22.
Além disso, Berman disse que o governo americano não conseguiu atestar nenhuma “circunstância especial” que levasse à divulgação do depoimento. Na semana passada, outro juiz também rejeitou um pedido da administração Trump para tornar públicas as transcrições do grande júri da investigação sobre Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein que cumpre pena de 20 anos de prisão.
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Crise na MAGA
Trump, que prometeu divulgar os arquivos caso retornasse à Casa Branca, virou alvo de uma teoria na MAGA sobre o seu suposto envolvimento no conluio de Epstein. No mês passado, o líder americano rejeitou uma nova investigação contra Esptein, definindo o assunto como “chato” e apenas interessante para “pessoas más”. Ele também disse que apoiava a publicação de arquivos “confiáveis” para calar o alvoroço causado pelos seus antigos apoiadores.
A teia conspiracionista foi promovida pelo magnata Elon Musk, antigo braço direito de Trump. Após deixar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), em maio, o bilionário passou de consigliere a inimigo do presidente dos EUA em um curto espaço de tempo. Além de criticar abertamente o plano de cortes de gastos e impostos de Trump, o dono da Tesla acusou o republicano de boicotar a liberação dos arquivos Epstein por ter sido citado neles.
“Hora de jogar a bomba realmente grande: Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não se tornaram públicos. Tenha um ótimo dia, DJT (Donald John Trump)!”, escreveu Musk no X, antigo Twitter, rede social da qual é dono, antes de apagar a publicação dias mais tarde.
A relação entre Trump e Epstein é antiga. Em 2002, ele disse à revista New York que Epstein era “fantástico” e “muito divertido de se estar por perto”, acrescentando: “Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são do tipo mais jovem”. Trump também contou que a dupla se conhecia há 15 anos, já que fazia parte de círculos sociais de elite de Nova York e da Flórida.
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza (notadamente, o príncipe Andrew) e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores em 2008. As acusações que o levaram à prisão em 2019 ocorreram mais de uma década após um acordo judicial que o protegia. Ele foi encontrado morto por enforcamento pouco mais de um mês após parar atrás das grades.