A rede de supermercado Dia, que está em recuperação judicial desde março do ano passado recebeu até o momento apenas 20 milhões de reais, ou seja, 12% do volume total de cerca de 163 milhões de reais investidos em CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) do Letsbank, integrante do Grupo Master.
O relatório mensal da Expertisemais, empresa responsável por conduzir a recuperação judicial, traça um cenário considerado altamente crítico. A interventora afirma que já havia sinalizado o risco em documentos anteriores, porém o quadro teria se deteriorado de forma ainda mais intensa no último mês. O Grupo Dia é controlado pelo empresário Nelson Tanure. Em comunicado enviado à Veja, a companhia declarou que todas as informações financeiras são divulgadas exclusivamente pelos canais oficiais da Administração Judicial. “Qualquer informação além desta está protegida por sigilo bancário. Reforçamos que estamos cumprindo 100% todas as obrigações previstas no processo de Recuperação Judicial, e que não há qualquer alteração na condução das operações, no abastecimento das lojas ou em qualquer relação com parceiros, fornecedores e clientes.”
O Letsbank reconheceu uma dívida de 163,3 milhões de reais com o Dia e efetuou um pagamento inicial de 20 milhões de reais em 28 de outubro. Outros 50 milhões de reais foram parcelados em prestações mensais de 5 milhões de reais, com início previsto para fevereiro de 2026. Já o montante restante, de 93,3 milhões de reais, seria liquidado por meio da cessão de precatórios cujo valor de face soma 116 milhões de reais. A administradora, porém, avalia que o valor efetivamente recuperável desses créditos pode ser consideravelmente inferior, o que colocaria pressão adicional sobre o caixa do Dia.
O quadro ficou ainda mais delicado após o Banco Central determinar, em 18 de novembro, a liquidação extrajudicial do Letsbank, instituição ligada ao Banco Master, alvo de suspeitas de emissão de créditos inexistentes e de problemas severos de liquidez. O controlador, Daniel Vorcaro, chegou a ser preso sob acusação de comercializar títulos fraudulentos, sendo liberado posteriormente.
Como o Grupo Dia havia registrado essa operação como se fosse um resgate de aplicação financeira, suas demonstrações contábeis apontaram uma receita de 23,3 milhões de reais em outubro. A Expertisemais classifica esse resultado como contábil e pouco sólido, pois depende de um ativo de difícil avaliação e com liquidez incerta.