O Rio de Janeiro parou nesta terça-feira, 28, por causa de mais uma operação policial com alta letalidade. De novo, o resultado foi o mesmo: dezenas de mortos e feridos, inclusive policiais. A rotina da cidade foi interrompida, escolas fecharam, linhas de transporte ficaram suspensas. E, no fim do dia, o governador Cláudio Castro tentou empurrar a responsabilidade para o governo federal — como se o problema fosse a falta de blindados e não a ausência de planejamento.
O governador prefere culpar Brasília a encarar o óbvio: não há estratégia. Pede equipamentos, quando o que falta é coordenação e inteligência. Em vez de procurar a Polícia Federal para planejar ações conjuntas e investigar as organizações criminosas que dominam territórios, Castro opta por balas a esmo que podem atingir a população negra que vive nas comunidades do Complexo da Penha e do Complexo do Alemão. O resultado é sempre o mesmo — tragédias com alto custo humano, com a continuidade do genocídio brasileiro contra pessoas pretas e pardas – e nenhum avanço real.
Em abril, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão unânime sobre o tema. Os ministros determinaram que o Estado do Rio de Janeiro apresentasse um plano de recuperação de controle territorial e de redução da letalidade policial. Exigiram também a instalação de câmeras corporais e o envolvimento da PF, do Coaf, da Receita Federal e da Secretaria de Fazenda do Rio no acompanhamento de movimentações financeiras suspeitas. A Polícia Federal fez sua parte e abriu um inquérito. O governo estadual, não.
Em vez de um plano, veio mais uma incursão em complexos de favelas. De novo, mortes, caos e a sensação de que nada muda. E, depois, o governador diz que não foi atendido em seu pedido de blindados. Não cola. Não é falta de equipamento, é falta, repito, de inteligência policial.
Castro tenta transformar um desastre de gestão em disputa política entre governos. Mas o que se viu hoje não é um problema de cooperação federativa. É uma falha grave de comando.
O Rio precisa de um governo que entenda que segurança pública se faz com investigação, presença do Estado e políticas consistentes, não com operações de improviso que terminam em tragédia. Enquanto Cláudio Castro insistir nesse modelo, o resultado será sempre o mesmo: violência, paralisia e um governo que, diante do próprio fracasso, procura alguém para culpar. Quando falta comando, sobra sangue.