O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira, 2, que os laços com o seu homólogo da China atingiram “nível sem precedentes”. A declaração ocorreu durante uma reunião entre os dois no Grande Salão do Povo, apenas um dia após o encerramento da Cúpula de Cooperação de Xangai, que reuniu líderes da Ásia e do Oriente Médio numa demonstração de força aos Estados Unidos.
“Caro amigo, tanto eu quanto toda a delegação russa temos o prazer de nos reunir novamente com nossos amigos e colegas chineses”, afirmou Putin a Xi, segundo um vídeo publicado pelo Kremlin no Telegram. “Nossa comunicação próxima reflete a natureza estratégica das relações Rússia-China, que estão em um nível sem precedentes.”
No encontro nesta terça, Putin destacou que os países estiveram “juntos naquela época” e continuam “juntos agora”. A Rússia conta com a China para a manutenção da sua economia em meio à guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. Xi respondeu a Putin que “as relações China-Rússia resistiram ao teste das mudanças internacionais” e que os dois países trabalhariam para “promover a construção de um sistema de governança global mais justo e razoável”, numa crítica indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O líder russo marcará presença no pomposo desfile militar de Xi para marcar o 80º aniversário da rendição formal dos japoneses no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) nesta quarta-feira, 3. Além dele, o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, também visitará a China para o evento. Trata-se do primeiro encontro internacional multilateral de Kim e da primeira vez em décadas que um líder norte-coreano participa de um desfile militar chinês — a última vez foi em em 1959, com o avô de Kim e fundador do país asiático, Kim Il-Sung.
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Cúpula de segurança
Na véspera, na cúpula em Tianjin, a dupla também destinou uma série de recriminações ao Ocidente. De um lado, o chinês condenou o “bullying” de certos países — EUA, nas entrelinhas — enquanto Putin culpou o Ocidente pelo conflito na Ucrânia.
Em discurso, Xi afirmou que “as tarefas de segurança e desenvolvimento enfrentadas pelos Estados-membros se tornaram ainda mais desafiadoras” e orientou os países participantes a rejeitarem a “mentalidade de guerra fria, ao confronto de blocos e bullying”. Ele também disse que é preciso “defender o sistema internacional com as Nações Unidas no seu núcleo e apoiar o sistema de comércio multilateral com a Organização Mundial do Comércio no seu núcleo”, no que pode ser considerada uma crítica ao controverso tarifaço de Trump.
Em seguida, Putin agradeceu a Xi e Modi nos esforços para “facilitar a resolução da crise ucraniana”. China e Índia são grandes compradores de petróleo bruto russo, de forma a permitir que Moscou tenha recursos suficientes para a manutenção do conflito na Ucrânia. Na semana passada, Trump impôs tarifas de 50% a Nova Déli por esse motivo na semana passada.
O presidente russo disse que houve “entendimentos alcançados” na reunião com o republicano no Alasca em 15 de agosto, sem dar detalhes, e que espera que “caminhando nessa direção, abram caminho para a paz na Ucrânia” Em contrapartida, Putin voltou a criticar os países ocidentais e alegou que “esta crise (guerra) não foi desencadeada pelo ataque da Rússia à Ucrânia, mas foi resultado de um golpe na Ucrânia, que foi apoiado e provocado pelo Ocidente”, atribuindo culpa às “constantes tentativas do Ocidente de arrastar a Ucrânia para a Otan”.
A Organização para Cooperação de Xangai (OCX) é um bloco com foco em segurança, combate ao terrorismo e cooperação econômica e militar. Hoje, é composto por China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Uzbequistão, Índia, Paquistão, Irã, Bielorrússia, além de 16 países observadores. A reunião foi realizada de 31 de agosto a 1º de setembro.
