O Exército de Israel bombardeou o Ministério da Defesa da Síria, em Damasco, duas vezes nesta quarta-feira, 16. A fachada e quatro andares do prédio foram destruídos. Segundo a mídia estatal síria, pelo menos dois policiais ficaram feridos e funcionários tiveram de se abrigar no porão do edifício. Trata-se do primeiro ataque israelense à capital síria desde maio, aumentando as tensões no Oriente Médio.
Um porta-voz do Exército de Israel disse ao jornal britânico The Guardian que a ofensiva é uma mensagem ao presidente Ahmed al-Shaara sobre o aumento da violência na província de Suweida, que presencia uma escalada nos confrontos entre o exército sírio e milícias drusas. Imagens mostram o momento do ataque ao Ministério da Defesa, próximo a uma emissora síria. A explosão assusta a âncora, que se afasta das janelas e procura abrigo.
Mais cedo, também nesta quarta, Israel conduziu um ataque aéreo o quartel-general do Exército sírio, também em Damasco. No total, três pessoas morreram e outras 34 ficaram feridas. O governo israelense alega que o objetivo das ações militares é proteger a população drusa — uma minoria religiosa predominante no local — e impedir que as tropas sírias se posicionam no sul do país.
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Conflitos com a comunidade drusa
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma ONG com sede no Reino Unido, relatou que 116 pessoas foram mortas desde o início dos combates — 64 drusos, incluindo quatro civis, e 52 membros das forças governamentais e tribos beduínas. No domingo 13, as forças militares entraram em Suweida, com o objetivo de acalmar os ânimos entre as tribos beduínas árabes e combatentes drusos.
De acordo com o jornal inglês The Guardian, os confrontos iniciaram após um druso ser roubado por beduínos em uma estrada ao sul de Damasco. O episódio desencadeou um ciclo de violência retaliatória entre as duas comunidades, algo bastante comum nos últimos anos.
Localizada no sul da Síria, Suweida é composta por uma população majoritariamente drusa. Os drusos são uma minoria religiosa no Oriente Médio, e vêm tentando negociar algum grau de autonomia com o novo governo do país após a queda do regime de Bashar al-Assad. O conflito entre as forças do novo governo sírio, majoritariamente sunitas, e combatentes drusos vem gerando receio de um confronto maior.
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Desconfiança com novo governo
O aumento da violência é um dos principais desafios de Ahmed al-Sharaa, que substituiu Bashar Al-Assad como governante da Síria após o grupo rebelde por ele liderado derrubar a ditadura. Seu passado causa reticência em grande parte da população, uma vez que esteve ligado à rede terrorista Al Qaeda. A pressão é alta para que ele prove que é capaz de governar uma democracia, e ele tem lutado para assumir o controle da área próxima à fronteira israelense.
Embora o regime de Sharaa tenha sido impulsionado pela rápida melhora dos laços com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que retirou as sanções contra a Síria, a violência evidenciou tensões sectárias persistentes. A maior parte da população segue a vertente sunita do islã, defendida por Sharaa e suas forças, mas há diversas minorias, como alauítas, drusos e curdos.
A desconfiança entre grupos minoritários em relação ao seu governo persiste – desconfiança essa aprofundada pelos assassinatos em massa de alauítas em março, que deixaram 1.600 mortos. A violência foi interpretada, em parte, como uma vingança, já que a família Assad é alauíta. Há ainda a questão do que fazer com os curdos no norte do país. As forças curdas foram fundamentais no combate à ditadura de Assad e exigem que seu sacrifício seja recompensado com algum grau de autonomia, e existem negociações para incorporá-los ao Exército.
A expectativa é de que Sharaa altere o alinhamento internacional sírio e entre em algum tipo de acordo de normalização com Israel. Não deve ser nada fácil. Os dois países têm uma rivalidade histórica, incluindo a tomada israelense das Colinas de Golã na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Após a queda de Assad, Israel aproveitou para fazer mais de 700 ataques aéreos na Síria nos últimos meses e ocupou parte do território na fronteira.