O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou nesta quarta-feira, 10, o inglês do seu homólogo liberiano, Joseph Boakai, levando a uma enxurrada de críticas o republicano. Afinal, a língua oficial da Libéria, na África Ocidental, é o inglês. O mal estar ocorreu enquanto Trump recebia líderes do Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal na Casa Branca para tratar de oportunidades comerciais.
“Que inglês bom, é lindo. Onde você aprendeu a falar tão bem?”, perguntou Trump. Em resposta, Boakai disse onde havia estudado na Libéria, recebendo mais elogios do republicano: “Isso é muito interessante. Tenho pessoas nesta mesa que não conseguem falar tão bem.”
Trump to Liberian President Boakai: “Such good English. Beautiful English. Where did you learn to speak so beautifully?”
Fun fact: English is the official language of Liberia. pic.twitter.com/7If4b2rw5w
— Republicans against Trump (@RpsAgainstTrump) July 9, 2025
A Libéria foi um país fundado pela Sociedade Americana de Colonização (ACS, na sigla em inglês) em 1822. A ideia era enviar escravizados africanos recém libertos para o país. A independência viria duas décadas mais tarde, em 1847. Mas os resquícios coloniais ficaram, resultando em o inglês ser a língua oficial liberiana, ainda que outros dialetos também façam parte da cultura local. A declaração de Trump gerou, então, indignação devido ao histórico imperialista americano.
“Eu me senti insultado porque nosso país é um país de língua inglesa”, afirmou Archie Tamel Harris, um defensor da juventude liberiana, à emissora americana CNN. “Não vejo isso como um elogio quando ele faz essa pergunta. Acho que o presidente dos EUA e o povo ocidental ainda veem os africanos como pessoas de aldeias sem educação.”
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Sem ressentimentos
Um diplomata da Libéria, sob condição de anonimato, disse à CNN que o comentário de Trump foi “inapropriado” e “um pouco condescendente com um presidente africano de um país de língua inglesa”. Em contrapartida, a ministra das Relações Exteriores do país, Sara Beysolow Nyanti, alegou que “não houve ofensa” para Boakai que “muitas pessoas não entendem as fronteiras linguísticas ou a demografia linguística do continente africano”.
“O que o presidente Trump ouviu claramente foi a influência americana em nosso inglês na Libéria, e o presidente liberiano não se ofende com isso”, explicou Nyantti. “Sabemos que o inglês tem sotaques e formas diferentes, então, para nós, o fato de ele ter captado a entonação distinta que tem raízes no inglês americano foi como reconhecer uma versão familiar do inglês.”
A vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, assegurou que foi um “elogio sincero” e desviou o foco para críticas ao governo anterior, afirmando que “os repórteres deveriam reconhecer que o presidente Trump já fez mais para restaurar a estabilidade global e elevar os países na África e ao redor do mundo do que Joe Biden fez em quatro anos”.
Não é a primeira vez, no entanto, que Trump decide dar pitacos no domínio da língua por uma liderança. Em junho, ele disse que o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, tinha um “bom inglês” e questionou se era tão afiado quanto o seu alemão. Na ocasião, Merz riu e garantiu que tenta “entender quase tudo” e que se esforça “para falar o melhor” que consegue.